sábado, 31 de outubro de 2009

GRUPOS DE TRABALHO DA 1ª CONECOM-RJ REALIZAM INTENSAS DISCUSSÕES


Dr. Marcelo Bechara, Presidente da Comissão Organizadora Nacional proferiu palestra no 2ª dia

No segundo dia da 1ª Conferência Estadual de Comunicação os debates foram intensos tanto na plenária de abertura para aprovação do regimento interno, ao final definido dentro das normas do regimento nacional, como nos grupos de trabalho, distribuídos em três auditórios no campus da UERJ.
Neste domingo (1/11), dia final da conferência, na parte da manhã será eleita a delegação que representará cada segmento do estado do RJ na etapa nacional, prevista para ocorrer de 14 a 17 de dezembro com a presença do Presidente Lula. Logo após o almoço acontece a plenária final para aprovação leitura do relatório final e definição de moções.


A TVC-Rio esteve na mesa do grupo de trabalho "Meios de Distribuição" através
do Presidente da ABCI-Brasil, Moysés Corrêa que é seu Coordenador Geral.

1ª CONECOM-RJ FOI INSTALADA POR RICARDO COTA SUBSECRETÁRIO DE COMUNICAÇÃO DO GOVERNO RJ

Com o plenário registrando a presença de pouco mais de duzentos e vinte participantes, foi realizada a abertura solene da Primeira Conferência Estadual de Comunicação do Estado do Rio de Janeiro. O horário das 13 horas para o ato de abertura dificultou a presença de mais participantes. O evento prossegue no final de semana (31/10 e 1/11) onde se espera a presença dos seiscentos participantes previstos. A solenidade teve início com a execução do Hino Nacional Brasileiro. Participaram da mesa de abertura, o Subsecretário de Comunicação Ricardo Cota, o presidente da Comissão Organizadora da 1ª CONECOM-RJ, Edgar Arruda, e uma representação da UERJ, a anfitriã, e da Imprensa Oficial. Estiveram presentes o deputado estadual do PDT, Paulo Ramos e a deputada federal do PT, Cida Diogo, além do representante do Ministério da Cultura, Octacilio Pierante. Após a solenidade confirmou-se a chegada do presidente da Comissão Organizadora Nacional da 1ª CONFECOM, Dr. Marcelo Bechara, assessor jurídico do Ministério das Comunicações. A equipe da TVC-Rio, coordenada por Alberto Mejia, esteve fazendo a cobertura para a programação do canal comunitário do Rio de Janeiro. Veja mais alguns fotos:


Ricardo Cota instala a 1ª Conferência Estadual de Comunicação RJ

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A TV Comunitária do Rio de Janeiro vai mostrar na íntegra tudo que acontecer na 1ª Conferência Estadual de Comunicação RJ

A TVC-Rio vai fazer a cobertura completa da 1ª Conferência Estadual de Comunicação que acontece a partir de hoje - 30/10 - no Teatro Odylo Costa Filho no campus Maracanã da UERJ. A abertura solene ocorre às 13h30 com a presença do governador Sérgio Cabral e autoridades nacionais. Você pode saber detalhes da organização do evento acessando o blog da 1ª CONECOM-RJ http://conecomrj.blogspot.com/. Ao longo da programação da TVC-Rio, canal 6 da NET, no mês de novembro você poderá ver tudo que vai acontecer na conferência que definirá delegados para a etapa nacional de 14 a 17 de dezembro em Brasília.

domingo, 18 de outubro de 2009

A Primeira Conferência Municipal de Comunicação foi realizada com sucesso

Trezentos e cinqüenta participantes nos dois dias de debate
1ª COMUCOM DO RIO DE JANEIRO SURPREENDE PELAS
PROPOSTAS APRESENTADAS E NÍVEL DO DEBATE

A 1a. Conferência Municipal de Comunicação do Rio de Janeiro foi realizada nos dias 16 e 17 de outubro de 2009, no Teatro João Theotonio, da Universidade Candido Mendes, e contou com a participação de, aproximadamente, 350 pessoas entre trabalhadores, representantes de movimentos sociais, estudantes, grupos sindicais, grupos comunitários, empresários, autoridades públicas etc.
1º dia
Na sexta-feira, por volta de 18h30min, foi apresentada a proposta de regimento interno pela comissão organizadora, para aprovação do plenário. Em seguida, realizou-se uma mesa solene composta pelo secretário de Ciência e Tecnologia da cidade do Rio de Janeiro, Rubens Andrade, a Deputada Federal Cida Diogo (PT) e os Vereadores Reimont (PT) e Roberto Monteiro (PC do B).Encerrada a mesa solene, a primeira plenária contou com a participação de Berenice Mendes, da coordenação-executiva do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e Beto Almeida, diretor da TV Comunitária de Brasília. O tema da debatido foi “Um novo marco regulatório para o setor de comunicações”.
2º dia
No sábado, dia 17/10, aconteceram às plenárias sobre os três eixos definidos para a 1a. Conferência Nacional de Comunicação, com a participação de um representante de cada segmento (sociedade civil, empresários e governo). Os eixos temáticos foram representados da seguinte forma: Produção de Conteúdo - Oona Castro, integrante do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, Filipe Coury, Diretor de Produção da MULTIRIO; Meios de Distribuição – Marcos Dantas, professor da Escola de Comunicação da UFRJ, Adelmo Santos, Presidente da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Serviços de Comunicação Multimídia e Jorge Bitar, Secretário Municipal de Habitação; e sobre Cidadania, Direitos e Deveres - Altamiro Borges, jornalista e membro do Fórum de Mídia Livre, Rubens Andrade, Secretário Ciência e Tecnologia / RJ, e Marília Milan, representante do SEPRORJ, Sindicato das Empresas de Processamento de Dados do Rio de Janeiro. Nos três debates ocorreram dezenas de intervenções e apresentações de propostas, oportunamente encaminhadas para a etapa estadual da conferência de comunicação. Os itens que se referiam ao município do Rio de Janeiro foram debatidos e votados em plenário. O relatório final da 1ª COMUCOM-RIO está em recebendo sua redação definitiva para divulgação.
A TV Comunitária do Rio de Janeiro se fez presente e muitas de suas filiadas contaram com expressivas delegações. Em suas camisetas a inscrição: “TVC-Rio, Presente na luta pela democratização da comunicação”.




quinta-feira, 8 de outubro de 2009

TVC-RIO E ABCCOM PRESENTES NA COMISSÃO ORGANIZADORA DA CONFERÊNCIA ESTADUAL RJ

A ABCI - Associação Brasileira para a Comunicação Independente que ocupa a Coordenação Geral da TVC-Rio foi nomeada para participar da Comissão Organizadora da 1ª CONECOM RJ. A ABCCOM - Associação Brasileira dos Canais Comunitários também foi convocada para participar. Portanto, dois coordenadores da TVC-Rio vão participar na organização desse evento inédito no nosso Estado. Rumo a 1ª Conferência Nacional de Comunicação - 1ª CONFECOM. Segue abaixo a portaria nomeando a Comissão:


SUBSECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
ATO DO SUBSECRETÁRIO
PORTARIA SSCS/CC Nº 05 DE 06 DE OUTUBRO DE 2009

CONSTITUI COMISSÃO ORGANIZADORA DA 1ª
CONFERÊNCIA ESTADUAL DE COMUNICAÇÃO
DO RIO DE JANEIRO - CONECOM/RJ.

O SUBSECRETÁRIO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA SECRETARIA DE
ESTADO DA CASA CIVIL, no uso das atribuições que lhe confere o art.
1º, § 1º, do Decreto n° 42.003, de 25 de agosto de 2009, que convoca a
1ª Conferência Estadual de Comunicação,

R E S O L V E:

Art. 1º - Constituir Comissão Organizadora da 1ª Conferência Estadual de Comunicação - CONECOM/RJ, a ser realizada no período de 30 de outubro a 01 de novembro de 2009, na cidade do Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro.

Art. 2º - A Comissão Organizadora será composta por representantes do poder público e de organizações da sociedade civil, titulares e suplentes, a seguir elencados:

Membros do Poder Público

Subsecretaria de Estado de Comunicação Social
Representante Titular - Ricardo Luiz Rocha Cota
Representante Suplente - Edgar Alencar Matos de Arruda
Secretaria de Estado de Educação
Representante Titular - Fátima Rocha
Representante Suplente - Mônica Marzano
Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia
Representante Titular - Alexandre Arruda
Representante Suplente - Lia Baron
Secretaria de Estado de Cultura
Representante Titular - José Emilio Rondeau
Representante Suplente - Mila Chaseliov
Rádio Roquette Pinto
Representante Titular - Eliana Caruso
Representante Suplente - Humberto Francisco
Assembléia Legislativa
Representante Titular - Fernanda Pedrosa
Representante Suplente - Pedro Motta Lima

Membros da Sociedade Civil

Abraço
Representante Titular - José Roberto de Souza
Representante Suplente - Filipe Cabral (Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação)
Associação Brasileira de Canais Comunitários - ABCCOM
Representante Titular - Marcos Figueiredo Guimarães Oliveira
Representante Suplente - Paulo Cesar Martins Vieira (União dos Negros pela Igualdade - UNEGRO)
Associação Brasileira para a Comunicação Independente - ABCI
Representante Titular - Moysés Chernichiarro Corrêa
Representante Suplente - Sérgio Luiz da Silva (Nova Central Sindical de Trabalhadores - NCST)
Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão
Representante Titular - Luiz Alberto Carregosa Cesar
Representante Suplente - Marco Altberg
Associação Brasileira de Radiodifusores - ABRA
Representante Titular - Daruiz Paranhos
Representante Suplente - Israel Pini
Associação Brasileira de Telecomunicações - TELEBRASIL
Representante Titular - José Américo Leite Filho
Representante Suplente - Eduardo Felippe Correa
Associação Nacional das Operadoras Celulares - ACEL
Representante Titular - Vania Beatriz Furtuna
Central dos Trabalhadores do Brasil - CTB
Representante Titular - Wevergton Brito Lima
Representante Suplente - Marcos Pereira Fernandes (Sindicato dos Trabalhadores na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e Similares do Rio de Janeiro - SINTECT-RJ)
Clube de Engenharia
Representante Titular - Fatima Sobral Fernandes
Representante Suplente - Telmo Lustosa
Escola de Comunicação da UFRJ
Representante Titular - Professor Marcos Dantas
Representante Suplente - Marcelo Miranda (Sinttel)
Ética na TV
Representante Titular - Cláudia Abreu
Representante Suplente - Noeli Godoy (Conselho Regional de Psicologia)
Sindicato dos Jornalistas do Estado do Rio de Janeiro
Representante Titular - Álvaro Britto
Representante Suplente - Cláudio Salles (Rádio Pop Goiaba)
Sindicato Nacional das Empresas de Telecomunicações por Satélite
Representante Titular - Luiz Otávio Vasconcelos Prates
Representante Suplente - Fábio Alencar
SINDITELEBRASIL
Representante Titular - Rodrigo Dolandeli dos Santos
Representante Suplente - Wilson Bôtto
União Nacional dos Estudantes - UNE
Representante Titular - Renato de Oliveira da Silva
Representante Suplente - Flávia Calé da Silva (União Estadual dos Estudantes - UEE)

Art. 3º - A Comissão Organizadora será presidida pelo representante da Subsecretaria de Comunicação Social da Casa Civil, Edgar Alencar Matos de Arruda, matrícula 896.939-6, Assessor de Projetos Especiais da mesma.

Art. 4º - A participação na Comissão Organizadora não ensejará remuneração de qualquer espécie e será considerada serviço público relevante.

Art. 5º - Compete à Comissão Organizadora:
I - coordenar, supervisionar e promover a realização da 1a CONECOM/RJ, atendendo aos aspectos técnicos, políticos e administrativos;
II - elaborar proposta de regimento interno da 1a CONECOM/RJ, que disporá sobre sua organização e funcionamento;
III - definir a metodologia e os procedimentos a serem empregados na 1º CONECOM/RJ;
IV - acompanhar o processo de sistematização das proposições da 1ª CONECOM/RJ;
V - deliberar sobre os critérios de participação e representação dos interessados, de expositores e debatedores das mesas redondas, bem como dos convidados;
VI - mobilizar a sociedade civil e o poder público, no âmbito de sua atuação nos municípios, visando participarem da Conferência;
VII - promover a articulação com entidades civis e órgãos públicos a fim de garantir a realização das Conferências;
VIII - promover a integração com os setores do Governo do Estado, que tenham interface com o evento, para resolver eventuais pendências e tratar de assuntos referentes à 1ª CONECOM/RJ;
IX - zelar pela efetiva realização do evento, possibilitando a infraestrutura adequada, por meio de parcerias, convênios e contratos, garantindo o atendimento especializado às pessoas com deficiência e a integridade de todos os participantes;
X - aprovar o Relatório Final da 1ª CONECOM/RJ;

Parágrafo Único - Caberá ao Presidente da Comissão Organizadora a solução de casos não previstos nesta Portaria.

Art. 6º - As eventuais despesas da Comissão Organizadora correrão por conta de rubrica orçamentária própria da Subsecretaria de Comunicação Social da Casa Civil.

Art. 7º - Ficam estabelecidos os dias 13 e 14 de outubro de 2009 para a reunião da Comissão Organizadora, a ser realizada às 10 horas, no auditório da Subsecretaria Militar, situado à Rua Pinheiro Machado, s/n, Palácio Guanabara, com a presença dos representantes titulares e suplentes designados nesta Portaria.

Art. 8º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

Rio de Janeiro, 06 de outubro de 2009.

RICARDO COTA
Subsecretário de Comunicação Social

(publicado na página 4 do D.O. - Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, Ano XXXV – Nº 184 - Parte I, Rio de Janeiro, quinta-feira - 8 de outubro de 2009)

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terça-feira, 6 de outubro de 2009

Impactos do latifúndio

No nosso campo, quem gera emprego e produz comida é a agricultura familiar, mas é a que recebe menos apoio.

Apesar de sua extensão, o Brasil, durante séculos, foi um país de porte pequeno ou médio, com população concentrada no litoral e agricultura em polos exportadores ou em torno de centros urbanos. A hileia e o cerrado não contavam; a pampa e a caatinga contavam precariamente para uma pecuária extensiva e outras atividades. Nas últimas décadas tornou-se viável o acesso a um território muito maior. Onde havia um grande país geográfico surgiu um grande país efetivo. O pomo da discórdia da questão agrária tradicional -a terra agricultável- tornou-se abundante.
Frustrou-se, mesmo assim, a expectativa dos desenvolvimentistas que associavam expansão da fronteira agrícola e democratização da propriedade. Por meios que não excluíram a grilagem e a violência, as regiões novas foram rapidamente dominadas pelos latifúndios. Muitos chegam a centenas de milhares de hectares, alguns à casa dos milhões, uma contribuição brasileira ao bestialógico universal. Propriedades privadas desse tamanho são impensáveis em qualquer outro país.
Esse modo de ocupação territorial se associa a um modelo agrícola que privilegia monoculturas em grandes extensões, em geral voltadas para exportação. O Estado interveio com vigor para impulsioná-las, tendo em vista enfrentar o gargalo cambial da nossa economia, principalmente depois da escalada da dívida externa na década de 1980.
Sob certos pontos de vista, como o da balança comercial e do impulso a uma cadeia industrial, foi um êxito. Sob outros, um desastre. Esse modelo exige anistia de dívidas a cada cinco anos; é um voraz consumidor de energia; espalha problemas ambientais; concentra renda; expulsa gente para cidades congestionadas.
A agricultura é uma atividade fundamental, mas demanda cuidados quando praticada em larga escala. Ela é o aproveitamento, pelo homem, de espécies vegetais oportunistas, adaptadas a ambientes temporários: não desenvolvem estruturas maciças, crescem rapidamente e produzem muitas sementes. Monoculturas extensas substituem sistemas biológicos diversificados e estáveis por sistemas simplificados e instáveis, que exigem permanente aplicação de venenos, de fertilizantes e de outros insumos.
O balanço dessa operação tende a ser negativo, mas isso não é visível a olho nu. O Censo Agropecuário divulgado nesta semana reafirmou o óbvio: no campo brasileiro, quem gera emprego e produz comida é a agricultura familiar, que em geral causa menos impacto ambiental.
Ocupando 24% da área dos estabelecimentos rurais, diz o Censo, nela estão 75% da mão de obra ocupada no campo e dela saem 87% da produção da mandioca, 70% do feijão, 58% do leite e assim por diante. Apesar disso, é uma prima pobre, a que recebe menos apoio. Não financia campanhas eleitorais nem conta com lobbies. A área mais afetada pela voraz expansão do latifúndio moderno é o cerrado, que corresponde a 23% do país, do Maranhão ao Mato Grosso do Sul. Sem o charme da Amazônia, recebe pouca atenção, como se fosse um vazio. É um erro.
Sempre houve ali uma agricultura camponesa. Estão ali 5% da biodiversidade do planeta. Bioma de contato entre todos os demais biomas brasileiros, por sua posição central, é a área de recarga das nossas três grandes bacias hidrográficas, a do São Francisco, a do Paraná e a do Araguaia-Tocantins. A rápida mutação, que inclui a desmedida expansão do eucalipto, devorador de água, compromete o regime hídrico dessas bacias. Nada disso é problema dos ruralistas. Para muitos deles, aliás, tudo isso é coisa de veado.
Adital - 06/10/09
César Benjamin  - Editor da Editora Contraponto. Doutor Honoris Causa da Universidade Bicentenária de Aragua (Venezuela). Autor de "Bom Combate" (Contraponto, 2006)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Chomsky critica os EUA e elogia o papel do Brasil na crise de Honduras

1 de Outubro de 2009 - 16h09


Ter apoiado o presidente deposto de Honduras e ter dado abrigo a ele em sua Embaixada, fez com que o Brasil assumisse uma posição de destaque no confronto de Manuel Zelaya com o governo interino hondurenho. "Um papel admirável", avaliou o linguista e teórico Noam Chomsky, em entrevista ao portal G1. O professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT) também criticou a "fraca" ação norte-americana na crise da América Central.
Linguista e professor do MIT, Noam Chomsky diz que Brasil ficou acima das expectativas e EUA não usaram 'todas as armas'.
Honduras passa por um conflito diplomático e político após um golpe de Estado que retirou do poder o presidente eleito, Manuel Zelaya, em 28 de junho. No dia 21 de setembro, ele voltou ao país de surpresa e se abrigou na Embaixada Brasileira, criando um impasse que dura até esta quarta-feira (30).
Chomsky publicou mais de 80 obras e desenvolveu uma teoria que revolucionou o estudo da linguística. Ele foi um dos ferozes críticos da Guerra do Vietnã, entre 1959 e 1975, e tem extensos trabalhos que criticam a política externa norte-americana. Após os atentados do 11 de Setembro, fez em seu bestseller "9-11" uma análise polêmica dos ataques, condenando tanto os seus autores como os EUA, a quem chamou de "principal nação terrorista" do mundo.

Leia a íntegra da entrevista:

G1 - O senhor acredita que os Estados Unidos apoiaram o golpe em Honduras? Qual tem sido o papel do país nessa crise?
Chomsky - Esse golpe foi incomum, e os Estados Unidos não o apoiaram abertamente. O país se juntou à Organização dos Estados Americanos (OEA) e a outras potências na crítica, mas fez isso de uma maneira fraca - não retiraram seu embaixador, como outras nações fizeram, por exemplo. Também se recusaram a chamar de golpe, o que envolveria cortar muitas ajudas, e não usaram nada de sua capacidade para restaurar a democracia.
Os militares de Honduras são muito ligados aos EUA. Aliás, os americanos usam uma base no país. Após a volta de Zelaya, os Estados Unidos passaram a criticar abertamente Zelaya, e seu embaixador na OEA o chamou de irresponsável. Não diria que o país apoia o golpe, mas, com certeza, não está fazendo algo para se opor. Há fortes segmentos dos Estados Unidos que até são a favor do golpe. A história de que Zelaya queria mudar a Constituição é um pretexto, Zelaya estava aumentando o salário mínimo, introduzindo programas que beneficiariam os pobres, e a pequena elite rica do país não gostou nada daquilo.

G1 - Como o senhor analisa a atitude do Brasil e da Venezuela em relação a Honduras hoje?
Chomsky - Acho que a atitude do Brasil tem sido muito admirável. Ao acolher Zelaya, o país se colocou numa posição a favor da democracia, e é claro que o que o Brasil faz é extremamente importante, pois é o principal país da América Latina.
O caso da Venezuela não é surpreendente, já que Zelaya já era um aliado de Chávez (o presidente Hugo Chávez), então o país se definiu fortemente contrário ao golpe, o que acho que é a posição correta.

G1 - O senhor acha que a volta de Zelaya mudou alguma coisa na dinâmica da organização diplomática na América Latina?
Chomsky - Acho que mudou muito. Os golpistas estão enfrentando uma pressão internacional, da OEA e de maneira mais fraca dos EUA, e agora eles estão caminhando para um confronto direto com o Brasil. Acredito que eles irão recuar. E é uma vergonha que os Estados Unidos não estejam tomando uma atitude mais forte nesse sentido, pois acredito que, se isso acontecesse, o golpe já teria acabado.
A questão crucial vai aparecer em novembro. Porque o que os golpistas estão tentando fazer é manter a situação até as eleições para tentar convencer o mundo de que a eleição é legítima e que isso deveria acabar com a questão. Mas claro que ela não será legítima, não com um governo que foi ao poder por um golpe militar. E a questão crucial vem depois: os EUA irão aceitar o resultado de uma eleição feita por um governo golpista?

G1 - E o que o senhor acha que acontecerá?
Chomsky - Espero que os Estados Unidos recusem, mas não tenho certeza. Acho que os EUA têm simpatia pelo golpe, eles não gostavam dos passos que Zelaya estava dando. Acho que os EUA estão vendo isso como um conflito entre dois grupos opositores que têm diferentes interpretações da lei, e não como um golpe que retirou um presidente eleito do país e o expulsou do país.

G1 - Ainda falando de América Latina, mas sobre a Colômbia. Recentemente tivemos um grande debate sobre a possibilidade do uso de bases militares da Colômbia pelos Estados Unidos, o que foi rechaçado pelos vizinhos sul-americanos. O senhor acha que a Colômbia precisa de ajuda para conter o narcotráfico ou isso seria uma desculpa para a entrada dos Estados Unidos no continente?
Chomsky - Não acredito que seja, quero dizer, o narcotráfico é um pretexto. Há alguns dias, o Panamá permitiu que bases sejam usadas pelos EUA em seu território. Mas isso é uma das coisas que têm acontecido - o treinamento de oficiais militares na América Latina aumentou consideravelmente.
No caso da Colômbia, se você analisar os documentos, especialmente um de abril passado, eles descrevem a base como um sistema geral de vigilância e controle da América Latina, que faz parte de um sistema instalado em outras partes do mundo. Ou seja, é muito maior do que qualquer coisa relacionada ao narcotráfico.
O controle americano sobre a América Latina tem diminuído. Os métodos tradicionais de controle, violência e estrangulamento econômico têm perdido eficácia. Eles ainda existem, mas não como antes. Os EUA estão sendo expulsos de muitos lugares, o Equador foi o último.
Por muitos anos, os americanos têm tentado restabelecer sua dominação. Relembrando, existe uma posição tradicional do país que relembra sua fundação e que diz que os EUA precisam controlar a América Latina.
Sobre o narcotráfico, é interessante como a questão está até sendo discutida! Vamos supor que a China, por exemplo, coloque bases militares no México para conduzir uma guerra química contra Kentucky, Tennessee e Carolina do Norte e envie oficiais para garantir que os Estados Unidos acabem com a produção de tabaco. Nós iríamos rir disso, não iríamos nem discutir. Isso existe pela lógica imperialista que nós nem discutimos.
Além disso, uma comissão de estudos composta por países latino-americano concluiu que a briga contra as drogas é falida. Estudos nos EUA mostraram que oferecer tratamento é bem mais efetivo do que fazer essas operações fora dos países. Apesar de saber disso, o governo continua ano após ano investindo dinheiro. Só há duas opções: eles são loucos ou têm outras intenções.

G1 - Como o senhor avalia a criação da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e de que forma ela mudou as relações da América Latina com os Estados Unidos?
Chomsky - A Unasul é um desenvolvimento muito importante. Pela primeira vez desde a conquista europeia, a América Latina começou a se mover rumo a uma integração. Essas instituições, além de aumentar as relações entre os países, são importantes porque as nações nunca serão capazes de se defender sozinhas. Na reunião em Santiago, no ano passado, Evo Morales agradeceu o apoio após um referendo que confirmou seu poder (e teve grande oposição por parte de governantes que realizaram consultas para se separar do país) e disse que aquela era a primeira vez que a América Latina tomou seus assuntos nas suas próprias mãos sem a interferência dos EUA.

G1 - Até hoje, os movimentos esquerdistas da América Latina foram estabelecidos seguindo as bases democráticas - presidentes foram eleitos ou mantidos no poder por referendos. Por que o senhor acha que esses governos assustam tanto as grandes potências?
Chomsky - A democracia é muito desapreciada pelas potências por muito boas razões, e a principal é porque a democracia neutraliza o poder, e as potências querem o poder em suas mãos. Os EUA derrubaram governos democráticos de muitos países, e o Brasil é um dos vários exemplos. Os governos democráticos são vistos como ameaças.
A administração Obama pune dois países na America Latina, Bolívia e Venezuela, argumentando que eles não fazem nada contra o narcotráfico. Mas o México, na fronteira americana, é um dos principais centros de narcotráfico! Isso são só armas contra governos democráticos de quem os EUA não gostam.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A mídia se comporta como tribunal

Numa longa e didática entrevista ao blog de José Dirceu, o advogado constitucionalista Pedro Estevam Serrano, professor de direito forense da PUC-SP, abordou um aspecto da mídia ainda pouco discutido na sociedade. Com mais de 20 anos de dedicação ao direito constitucional, ele avalia que hoje os meios de comunicação têm enorme interferência nas decisões judiciais. “A mídia constrói símbolos, ergue e destrói personagens e interfere diretamente nas decisões. Hoje, é mais relevante o que pensa o dono de um jornal do que qualquer parlamentar”. Serrano propõe medidas para disciplinar este “poder imperial”. Reproduzo abaixo trechos desta rica entrevista:

Como você avalia a mídia brasileira hoje? Podemos considerá-la um quarto poder?
Temos duas dimensões do que é considerado mídia. Hoje, há um processo de comunicação que domina todos os ambientes da vida humana. Na realidade, a natureza do capitalismo mudou. Atualmente, ele é mais uma máquina produtora de desejos do que de mercadorias, o chamado fetiche da mercadoria virou o produto principal, muito além da própria aquisição. Um autor chamado Gilles Lipovetsky afirma que a compra e as relações de consumo estão muito mais ligadas à experiência do que ao consumo material. Talvez, nunca em sua história, a humanidade tenha experimentado um período de tanta radicalização do poder do simbólico e da comunicação. Neste quadro, evidentemente, a mídia torna-se um poder social.
Há também a ampliação da caracterização clássica do poder político, o uso da força física num âmbito legítimo e institucional. Hoje, o poder político implica mais do que o uso da força física, trata-se de qualquer tipo de condicionamento da vida humana e os mais diversos ambientes da vida estão permeados por esse tipo de questão.
No Brasil, isso não é diferente. Quando você considera o conceito da mídia, no sentido de quem veicula notícias, o poder que ela tem sobre a vida social e comunitária das pessoas é imenso. A mídia constrói símbolos, ergue e destrói personagens e interfere diretamente nas decisões comunitárias. Hoje, é mais relevante o que pensa o dono de um jornal a qualquer parlamentar. Ele tem mais poder de decisões que interferem diretamente na vida das pessoas. Sem dúvidas, a mídia é um poder. Por isso, defendo a adoção de mecanismos próprios do Direito, ambiente que desde a Revolução Francesa vem acumulando conhecimento e portas de procedimentos em relação ao poder.

Você acha que a adoção de uma lei de imprensa moderna como vigora nos países democráticos faz-se necessária também no Brasil?
Sim. Nós precisamos publicizar as regras da mídia. Existe uma tendência dos jornalistas a acreditar na informação imparcial, a notícia imparcial. Uma idéia que não se sustenta frente a menor observação empírica. A própria escolha do que é um fato jornalístico é uma escolha de valor. Por outro lado, isso não significa que a imparcialidade é tão inatingível que tanto faz. A busca pela imparcialidade não é um fato cientificamente apurável e não se atinge através do discurso científico, mas ela pode ser um valor ético. Óbvio que sujeita a toda subjetividade de qualquer valor, mas, sem dúvidas, é um valor ético.
Notícia e imparcialidade nunca estarão juntas, mas são como duas grandes paralelas, podem estar a centímetros ou a metros, quilômetros de distância. A regulação da produção da notícia deve se dar através de mecanismos de natureza ética. Devemos entender a produção da notícia não como um produto de uma condição necessária ou de algo científica ou parcialmente verificado, mas como produto de um juízo ético.
O segmento de conhecimento humano que mais tem lidado com controlar os poderes através de valores éticos é o direito público. É um fenômeno contemporâneo, você como advogado sabe, a interpenetração entre os direitos público e privado. Por exemplo, ambientes societários adotam leis do direito público; o controle tarifário é feito por concorrência, um controle típico do direito das relações privadas. Você tem uma interpenetração entre os dois fenômenos.
Eu proponho que certos procedimentos próprios do Estado democrático sejam trazidos para a produção da notícia, com vistas à defesa de certos valores. Veja que os princípios jurídicos sempre incidem em tensão, jamais sozinhos, um colide com o outro. É o que ocorre nesse caso. A defesa de uma natureza democrática na produção da notícia se dá nessa tensão.
Grosso modo seria a preservação da identidade de um lado, o direito de informar e de ser informado. Aí a distinção entre essa legislação democrática e uma legislação autoritária que iria contra essa tensão, servindo ao interesse do Estado. Não ponho nessa relação, em nenhum momento, o interesse do Estado como um interesse que deva ser considerado em uma lei de imprensa, até porque o governo geralmente é o principal investigado. Agora, você tem o direito da sociedade a se informar.
Se informar não é só ter acesso à notícia, mas que essa esta seja produzida por um procedimento que garanta o valor ético da imparcialidade. Creio que a sociedade – não os jornalistas, nem os donos de jornais – deva regular esses procedimentos da produção de notícia através de uma lei. Portanto, uma lei democrática de imprensa não vai discutir conteúdos, mas procedimentos. Ou seja, quais são os procedimentos que devem ser adotados na elaboração de uma notícia.

Por exemplo, o outro lado não deve ser uma postura ética do jornal, mas uma válvula jurídica imposta. Quais os critérios desse outro lado? As razões que levam uma editora a negar a veiculação de uma notícia produzida por um jornalista precisam ser motivadas, o princípio da motivação. O dono de jornal está lidando com um assunto de interesse público – aliás, é esse o argumento deles para não serem censurados, o que é correto. Mas se estão realizando uma atividade de interesse público, precisam adotar um procedimento estabelecido por lei para negar, por exemplo, a veiculação da notícia ou para formatar uma notícia de dado modo. Isso tudo precisa ser justificado.
Esse tipo de experimentação, o Estado já tem através do direito público com as licitações, os procedimentos de concurso, os atos administrativos etc. Trazer esse tipo de modo procedimental do direito privado para o âmbito de imprensa, talvez seja o mais adequado. Isso atende não só ao interesse da sociedade, mas também o do jornalista. Na hora em que a produção dele for negada, o editor tem que justificar. É uma forma de atendermos também o direito das pessoas que foram acusadas e tem o direito de produzir a sua defesa.

Como é feito hoje? Vai o jornalista do próprio jornal entrevistar o acusado. Você tem que dar o espaço de, para se a pessoa quiser, ter o seu assessor de imprensa. Que ele produza aquela notícia na formação técnica adequada e ocupe aquele espaço no jornal. Ou seja, temos que aperfeiçoar esses processos que são imperiais. O que vivemos hoje em relação à imprensa é muito semelhante ao período da aristocracia onde havia um imperador que era um governante absoluto do Estado, que não reconhecia na sociedade qualquer cidadão. A cidadania é um direito oponível ao próprio Estado. Não é a supremacia só da lei, mas que esta reconheça direitos da cidadania que possa se opor ao próprio do Estado. E que a formação da vontade estatal seja heterônoma, não autônoma.
Hoje a formação da vontade de um editor é totalmente autônoma, não é heterônoma. Não obstante, eles alegam interesse público, o que é correto, a notícia é de interesse público mesmo. Desde a eleição do que é um fato jornalístico ou não é, o processo de investigação e produção da notícia, o resultado final e a aceitação pela editoria, tudo isso teria que ser procedimentalizado através de uma lei social e democraticamente discutida.
Aproveitar essa vivência própria do direito público que lida com questões do interesse público e transitá-la para o jornalismo. Os donos de jornais teriam consciência de que são donos de uma atividade privada que tem caráter híbrido, ela lida com um objeto que é de interesse público. Não é como vender sapato no supermercado. E os donos de televisão mais ainda são prestadores de serviço público.
Hoje nós não temos uma Lei de Imprensa, nem a teremos em curto prazo. Ainda que a ANJ tenha manifestado interesse nisso, na verdade estamos sem direito de resposta, pois não há uma regulamentação nesse sentido. O que fazemos numa situação como essa? Direito de resposta e indenização à imagem são direitos constitucionais. Regulado ou não, temos que exigir. O poder judiciário tem que respeitar e fazer valer.
Sem dúvida alguma e através de ações, há mecanismos para isso. Houve uma mudança procedimental. Um procedimento próprio de Lei de Imprensa e hoje você entra com uma ação de obrigação para atender essa demanda. Quanto às indenizações, seria bom ter uma lei de imprensa específica com o efeito contrário ao que a ANJ quer fazer. Não devemos ter censura prévia, mas que seja vedado pelo Judiciário – salvo situações excepcionais como guerra, direito de menor – fornecer liminares como esta do Estadão. Por outro lado, como você faz o controle da legalidade da conduta? Através de atitudes repressivas.

A indenização não pode ser na forma como o Direito civil subentende, de compor as perdas e danos. Como nos Estados Unidos, demonstrada a má fé – expressa pela ausência de cumprimento desse procedimento que já falei – o jornal tem que pagar uma indenização que coíba esse tipo de conduta.
O Judiciário funciona como um herético de mercado de preço. Você tem que dissuadir o sujeito de fazer. Dependendo da característica de má fé, a indenização é para quebrar a empresa mesmo, para que ela saia do mercado. O Judiciário funciona como controle herético, serve de exemplo. Na sociedade, todo poder tem que corresponder a uma responsabilidade, esta é a relação do Estado de direito. Se reconhecemos que a mídia tem um espaço de poder grande, tem que ter responsabilidade também, senão fica uma atitude imperial, cada um faz o que quer e não tem responsabilidade nenhuma, domina a vida das pessoas, sem nenhum tipo de limite.
Tem que ter uma lei de imprensa para justamente garantir que não haja censura, como houve agora, mas sobretudo garanta a responsabilidade.

E no caso do direito de resposta, como lidamos com a questão do tempo. Se um processo leva 2, 3, 4 anos, qual o procedimento?
O cidadão é obrigado já na produção da notícia a produzir a resposta. Ele oferece o espaço do investigado. Na verdade, o espaço dedicado à notícia tem que ter o espaço físico destinado ao outro lado. A produção do conteúdo do contraditório não pode ficar a cargo do jornal, se o investigado quiser, ele tem o direito de ter sua própria assessoria para produzir aquela notícia. Se ele tiver problemas, abre mão e concede a entrevista para o jornalista do Jornal, mas ele tem que ter essa possibilidade. O jornal que não cumprir isso está sujeito a sanções repressivas e a pagar indenização. A notícia não deixará de ser veiculada.
Essa experiência acumulada nós temos à mão desde a Revolução Francesa. Como funcionam as coisas quando você tem um valor ético e o desejo de controlar pela sociedade a conduta do poder e ao mesmo tempo garantir a liberdade? Ninguém vai controlar o conteúdo da notícia, mas o procedimento de produção dessa notícia, ou seja, o modo como ela é produzida.

É a forma de lidar com a relação de tensão. Como você garante a liberdade de imprensa? Pelo conteúdo. Ele produz o conteúdo que quiser, a responsabilidade estará se não cumprir determinado procedimento. É imperfeito? É, mas é o mecanismo humano que adquirimos de conhecimento quando lidamos com o Estado que usa a força física que é um poder imenso. O mecanismo seria esse, o outro lado teria que vir junto com a notícia, porque aí você deixa o leitor julgar. O leitor terá seu direito respeitado também. Você produz a notícia, dá sua opinião – o jornal tem um espaço de opinião bem claro do que é opinião e notícia – e na notícia tem que vir o outro lado. E o leitor julga.

Tem que dar um prazo mínimo de tempo antes publicar. Mas o jornalista fala “e o furo”? O furo é interesse privado, não é interesse público.

A questão do furo foi utilizada como um contraponto à criação do blog Fatos e Dados da Petrobras. Eles alegavam que ao montar o blog, a estatal divulgaria perguntas de um determinado jornal, tirando deste informações exclusivas. Na realidade, o Fatos e Dados abriu uma nova página no jornalismo brasileiro e na disputa pela informação no país. Depois da Petrobras, ninguém ficará mais inerte, nem passivo diante uma campanha, como estão fazendo contra ela, nos jornais.
Os mecanismos de comunicação se tornam mais democráticos na medida em que as tecnologias se tornam mais acessíveis. Esse é um exemplo de construção da informação de forma artificial nos meios de comunicação. É um meio de combate. Agora, imagine só, um investigado ter que criar as condições para se defender…
Nem sempre isso é possível porque muitos não têm recursos. Para poder garantir a todos, seus direitos quando investigados pela imprensa, deveríamos criar mecanismos procedimentais dentro da própria imprensa, na produção da notícia, na escolha do fato jornalístico, no processo de produção da versão que seria e que no final chega à elaboração da notícia. Ela tem que ser um produto de um procedimento anterior. E se o jornal não quiser seguir o procedimento arcará com o ônus de não o seguir.

Inclusive, esse procedimento garantiria vários interesses. Do jornalista para fazer veicular a notícia que deseja, mesmo contrariamente à visão do editor. Se é notícia de interesse público, os interesses privados devem se submeter a ele. É mais importante que o investigado se defenda ou que eu garanta o meu furo? É evidente que a defesa é mais importante, esse é um valor humano superior à idéia de se aparecer e apropriar financeiramente das conseqüências de uma notícia.
Então, esse tipo de hierarquização de valores nós não podemos deixar nas mãos dos donos de jornais. A sociedade tem que chamar para si essa hierarquia. Procedimentar a produção da notícia garantiria, inclusive, a possibilidade de todos terem certa a veiculação da sua versão quando forem investigados. Sem falar que melhoraria a condição dos jornais, daria mais legitimidade para a produção de noticias no país, o jornalista passaria a ter um novo papel, mais relevante, inclusive.

Como você está acompanhando o papel da Conferência Nacional de Comunicação? As empresas com exceção da rede TV e a da Bandeirantes, se retiraram do debate.
É natural que os donos de meios de comunicação queiram fazer os seus interesses privados sobreporem aos interesses públicos. Este é um exemplo do que vai se enfrentar. Quando você fala em procedimentalizar notícia está, na verdade, tirando poder dos donos dos meios de comunicação em benefício da sociedade brasileira e da política no sentido mais amplo dessa palavra.
Veja que eles se retiraram de uma Conferência Nacional! É um debate, não custa nada, basta ir lá conversar a respeito do que está sendo proposto. Até para o diálogo eles se negam. Um sinal claro de que ainda temos uma aristocracia imperial dominando a mídia nesse país. De como a lógica ainda é aristocrática, o proprietário é o dominante. Esse é o tipo de noção que a gente verifica.

Com a sua experiência como advogado, como se dá a interferência da mídia nas decisões do âmbito judiciário? Os juízes e tribunais de segunda e terceira instância são influenciados pela mídia?
Muito. O negócio é tão influente que existem dois tipos de casos: os que têm repercussão pública e os que não têm. A máquina estatal judicial e de investigação também funciona de acordo com esse critério. Quando não tem repercussão é lenta, ineficaz, desatenta, burocrática. Quando tem, é mais ágil, completamente oposta, sofre condicionamentos sociais evidentes. É outra modalidade de comportamento.
É tão impactante que se o sujeito adota uma linhagem realista – uma modalidade do direito que detém a condição de previsibilidade nas questões judiciais – ele não tem como desconsiderar a mídia como um dos fatores que deve levar em conta. Em prática forense, uma das aulas que dou na universidade, não dá para não falar de mídia na sala de aula. A idéia da prática, o direito como realidade no setor, não tem jeito.
Há dois tribunais hoje, o formal do Estado e o real da mídia. Você tem que cooperar nos dois, o advogado em sua formação como profissional tem que ter aptidão para lidar com a mídia. Isso é desejável? Para fazer justiça não. Não dessa forma imperial que a mídia produz a notícia hoje. É negativo para o efeito de julgar as pessoas.

Fonte: Blog do Miro - http://www.vermelho.org.br/blogs/altamiroborges/