domingo, 31 de outubro de 2010

Marcos Coimbra: Três mitos sobre a eleição de Dilma

Enquanto o País vai se acostumando à vitória de Dilma Rousseff, uma nova batalha começa. Nem é preciso sublinhar quão relevante, objetivamente, é o fato de ela ter vencido a eleição, nas condições em que aconteceu. Ela é a presidente do Brasil e, contra este fato, não há argumentos.Sim e não. Porque, na política, nem sempre os fatos e as versões coincidem. E as coisas que se dizem a respeito deles nos levam a percebê-los de maneiras muito diferentes.Nenhuma versão muda o resultado, mas pode fazer com que o interpretemos de forma equivocada. Como consequência, a reduzir seu significado e lhe diminuir a importância. É nesse sentido que cabe falar em nova batalha, que se trava em torno dos porquês e de como chegamos a ele.Para entender a eleição de Dilma, é preciso evitar três erros, muito comuns na versão que as oposições (seja por meio de suas lideranças políticas, seja por seus jornalistas ou intelectuais) formularam a respeito da candidatura do PT desde quando foi lançada. E é voltando a usá-los que se começa a construir uma versão a respeito do resultado, como estamos vendo na reação da mídia e dos “especialistas” desde a noite de domingo.O “economicismo” – O primeiro erro a respeito da eleição de Dilma é o mais singelo.Consiste em explicá-la pelo velho bordão “é a economia, estúpido!”É impressionante o curso que tem, no Brasil, a expressão cunhada por James Carville, marqueteiro de Bill Clinton, quando quis deixar clara a ênfase que propunha para o discurso de seu cliente nas eleições norte-americanas de 1992. Como o país estava mal e o eleitorado andava insatisfeito com a economia, parecia evidente que nela deveria estar o foco do candidato da oposição.Era uma frase boa naquele momento, mas só naquele. Na sucessão de Clinton, por exemplo, a economia estava bem, mas Al Gore, o candidato democrata, perdeu, prejudicado pelo desgaste do presidente que saía. Ou seja, nem sempre “é a economia, estúpido!”Aqui, as pessoas costumam citar a frase como se fosse uma verdade absoluta e a raciocinar com ela a todo momento. Como nas eleições que concluímos, ao discutir a candidatura Dilma.É outra maneira de dizer que os eleitores votaram nela “com o bolso”.Como se nada mais importasse. Satisfeitos com a economia, não pensaram em mais nada. Foi o bolso que mandou.Esse reducionismo está equivocado. Quem acompanhou o processo de decisão do eleitorado viu que o voto não foi unidimensional. As pessoas, na sua imensa maioria, votaram com a cabeça, o coração e, sim, o bolso, mas este apenas como um elemento complementar da decisão. Nunca como o único critério (ou o mais importante).A “segmentação” – O segundo erro está na suposição de que as eleições mostraram que o eleitorado brasileiro está segmentado por clivagens regionais e de classe. Tipicamente, a tese é de que os pobres, analfabetos, moradores de cidades pequenas, de estados atrasados, votaram em Dilma, enquanto ricos, educados, moradores de cidades grandes e de estados modernos, em Serra.Ainda não temos o mapa exato da votação, com detalhe suficiente para testar a hipótese. Mas há um vasto acervo de pesquisas de intenção de voto que ajuda.Por mais que se tenha tentado, no começo do processo eleitoral, sugerir que a eleição seria travada entre “dois Brasis”, opondo, grosso modo, Sul e Sudeste contra Norte, Nordeste e Centro-Oeste, os dados nunca disseram isso. Salvo no Nordeste, as distâncias entre eles, nas demais regiões, nunca foram grandes.Também não é verdade que Dilma foi “eleita pelos pobres”. Ou afirmar que Serra era o “candidato dos ricos”. Ambos tinham eleitores em todos os segmentos socioeconômicos, embora pudessem ter presenças maiores em alguns do que em outros.As diferenças no comportamento eleitoral dos brasileiros dependem mais de segmentações de opinião que de determinações materiais. Em outras palavras, há tucanos pobres e ricos, no Norte e no Sul, com alta e com baixa escolaridade. Assim como há petistas em todas as faixas e nichos de nossa sociedade.Dilma venceu porque ganhou no conjunto do Brasil e não em razão de um segmento.O “paternalismo” – O terceiro erro é interpretar a vitória de Dilma como decorrência do “paternalismo” e do “assistencialismo”. Tipicamente, como pensam alguns, como fruto do Bolsa Família.Contrariando todas as evidências, há muita gente que acha isso na imprensa oposicionista e na classe média antilulista. São os que creem que Lula comprou o povo com meia dúzia de benefícios.As pesquisas sempre mostraram que esse argumento não se sustenta. Dilma tinha, proporcionalmente, mais votos que Serra entre os beneficiários do programa, mas apenas um pouco mais que seu oponente. Ou seja: as pessoas que tinham direito a ele escolheram em quem votar de maneira muito parecida à dos demais eleitores. Em São Paulo e Minas Gerais, por exemplo, os candidatos do PSDB aos governos estaduais foram eleitos com o voto delas.Os três erros têm o mesmo fundamento: uma profunda desconfiança na capacidade do povo. É o velho preconceito de que o “povo não sabe votar” que está por trás do reducionismo de quem acha que foi a barriga cheia que elegeu Dilma. Ou do argumento de que foram o atraso e a ignorância da maioria que fizeram com que ela vencesse. Ou de quem supõe que a pessoa que recebe o benefício de um programa público se escraviza.É preciso enfrentar essa nova batalha. Se não, ficaremos com a versão dos perdedores.
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi. Também é colunista do Correio BrazilienseRevista Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/politica/tres-mitos-sobre-a-eleicao-de-dilma

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Fernando Morais: O Brasil já não fala fino com Washington

A rádio CBN entrevistou nesta quinta (28) duas personalidades renomadas da cultura brasileira sobre suas opções no segundo turno das eleições presidenciais. Um deles é o poeta Ferreira Gullar, eleitor de Serra. O outro é Fernando Morais, jornalista, escritor e ex-secretário de Cultura de São Paulo (no governo Quércia, quando criou a Universidade Livre de Música).Gullar, que em tempos já idos foi um homem de esquerda, justificou sua preferência alegando conhecer José Serra desde os anos 1960 e elogiando supostas realizações do tucano contestadas por especialistas, como a viabilização dos genéricos, apresentada como resultado de uma luta contra as multinacionais do remédio, o que não corresponde à verdade, segundo o físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite.

No mesmo tom da campanha demo-tucana, o poeta e ex-comunista disse que não vota em Dilma porque não a conhece e não confia em sua capacidade, um argumento pífio e de fundo machista, que exala ignorância em vez de sabedoria.

Dois exemplos

Já Fernando Morais, autor do livro A ilha (sobre Cuba) e de uma bela biografia de Assis Chateaubriand (Chatô), entre outras obras, foi bem mais convincente ao expor as razões pelas quais vota em Dilma e não vota em Serra. Leia abaixo o depoimento ( curto e grosso) do escritor à CBN:

“Eu voto na Dilma porque é a pessoa mais qualificada para dar continuidade ao período que é seguramente o período mais importante na história do Brasil nos últimos 50 anos. Desde Getúlio Vargas nenhum presidente promoveu transformações tão profundas quanto o Lula

“Vou pegar dois exemplos, em primeiro lugar o feito que foi tirar da miséria absoluta 30 milhões de pessoas, como a população inteira sabe. Isto significa 10 vezes a população do Uruguai , seis vezes a população da Dinamarca e não é esmola como dizem seus adversários. O Bolsa Família é um projeto de integração, de inclusão social, provavelmente um dos maiores já realizados no mundo.

“Depois, por outra razão que é a política externa independente. Provavelmente o Brasil, desde Horácio Lafer, não tem uma política externa tão altiva, tão independente, que o Chico Buarque resumiu muito bem: é uma política externa que não fala fino com Washington nem fala grosso com o Paraguai e com a Bolívia [o contraste com a diplomacia dos pés descalços de FHC é colossal]

“Não voto em Serra também porque conheço o Serra, sei quem é ele, é um desagregador, um dos poucos políticos que eu conheço que não tem amigos. O Serra foi a um cartório em São Paulo e registrou, escreveu num pedaço de papel ´vou ser candidato a prefeito de São Paulo e prometo cumprir o mandato até o fim´ . Assinou em baixo, José Serra, e no meio do mandato foi embora, largou a Prefeitura pela metade, entregou a prefeitura para o DEM, para a antiga Arena. Depois se elege governador, larga o governo pela metade

“Como é que eu posso colocar para presidir um país, que não é para ser gerente, o Brasil não é uma agência bancária, não é uma loja de banana, como é que vou colocar para dirigir um país de 200 milhões de habitantes alguém que não cumpre nem a própria palavra.

“Essas são as razões essenciais pelas quais eu não voto no Serra”.

Da redação, com CBN
(transcrição do blog de Paulo Henrique Amorim - Conversa a Afiada: http://www.conversaafiada.com.br/politica/2010/10/28/morais-brasil-ja-nao-fala-fino-com-washington/)

Decano da TVC-Rio, Anoar de Salles faz 76 anos

O atual coordenador de finanças da TV Comunitária do Rio de Janeiro, Anoar Kalil de Salles completou no dia 28 de outubro de 2010, 76 anos de idade. Desejamos a esse ilustre colaborador do canal comunitário do Rio muita paz, saúde e prosperidade. Anoar é o nosso decano e merece todas as nossas homenagens.
Moysés Corrêa, coordenador geral da TVC-Rio

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Blog de Paulo Henrique Amorim divulga mensagem do jornalista Oswaldo Maneschy sobre os perigos das urnas eletrônicas

O Conversa Afiada publica artigo do Maneschy, que trabalhou com o Brizola, o primeiro a denunciar: essa urna eletrônica do Nelson serrista Jobim é um convite à fraude !


Prezado Paulo Henrique:

Acabo de chegar de São Luis (MA) onde acompanhei como observador do PDT a auditoria nas urnas eletrônicas usadas no 1° turno das eleições do Maranhão feita pelo engenheiro especializado em segurança de informática, Amilcar Brunazo Filho, e a advogada especialista em Direito Eleitoral, Maria Aparecida Cortiz. Como sabe, além de brizolista, sou velho crítico dessas máquinas e neste 1° turno os resultados em três estados me chamaram a atenção: Paraná, São Paulo e Maranhão. Tiveram jeito de coisa encomendada.

No primeiro (PR), ganhou o candidato a governador que as pesquisas, antes de terem sua divulgação proibida a 15 dias da eleição, mostravam em queda; no segundo (SP), além da suspeita demora na divulgação dos números finais, sem mais nem menos, no último segundo, venceu um senador que ninguém esperava; e, no terceiro (MA), a velha oligarquia local teve uma vitória prá lá de boa – por 4 mil votos em um universo de mais de 4 milhões de eleitores.

No Paraná e em São Paulo ninguém contestou nada, os eleitos estão aí empenhados na candidatura Serra neste 2° turno das eleições presidenciais. Já no Maranhão, foi diferente.

O deputado federal Flávio Dino (PcdoB), juiz federal e ex-relator da recente reforma eleitoral aprovada pelo Congresso que obriga, a partir de 2014, as urnas eletrônicas imprimirem o voto (para permitir a recontagem) – achou o resultado suspeito e para compreender melhor o ocorrido, contratou o engenheiro Amilcar Brunazo Filho e a advogada Maria Aparecida Cortiz, ambos de São Paulo, para auditarem o resultado das eleições maranhenses.

Brunazo e Cida representam o PDT no TSE há pelo menos 10 anos e são dos poucos brasileiros que aprenderam a lidar, fora os técnicos da própria Justiça Eleitoral, com essa caixa-preta que são as urnas eletrônicas usadas no país desde 1996. Máquinas que Leonel Brizola, numa das muitas imagens rurais que incorporou à política nacional, dizia serem equivalentes à argola que se põe no focinho do touro para levá-lo aonde se quer. O touro era o Brasil.

O relatório técnico preparado por Brunazo e Aparecida levantou várias irregularidades nas eleições maranhenses e, por conta dele, Flávio Dino entrou com uma representação no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Maranhão contestando o resultado. No exíguo prazo que isto é possível, pela lei. O problema é que cabe ao próprio TRE-MA decidir se irregularidades foram, ou não, cometidas.

Isto porque no Brasil a Justiça Eleitoral acumula os três Poderes da República: ela normatiza as eleições, portanto legisla; ela faz as eleições acontecerem, ou seja, executa e; já que são juízes, ela também julga o que tiver que ser julgado. Tanto poder junto só no tempo da ditadura e as pessoas passam batidas, não se apercebem disso.

É importante lembrar que o Maranhão é o Estado onde a ditadura não acabou, como costuma dizer o Dr. Jackson Lago (PDT), 3° colocado na disputa para governador, porque Sarney jamais saiu do poder desde que chegou lá, na época dos militares.

O resultado da eleição foi tão conveniente para Roseana que realmente pareceu sob encomenda. Dino somou 859.402 votos, ou 29,45% do eleitorado; enquanto o ex-governador Jackson Lago (PDT), fez 569.412 votos – ou 19,54% do eleitorado. Outros dois candidatos disputaram a eleição. Um segundo turno no Maranhão, na opinião dos analistas locais, seria fatal para Roseana porque o que não aconteceu no 1° turno, a união de Lago e Dino, ambos anti-Sarney, com certeza aconteceria no 2° turno – e com a ajuda dos nanicos.

Também não custa lembrar, Paulo Henrique, que Roseana chegou ao poder estadual depois que o TSE afastou do Palácio dos Leões o íntegro Jackson Lago, um médico pobre, em processo prá lá de polêmico. Jackson foi acusado, processado e condenado pela Justiça Eleitoral por “abuso de poder econômico e compra de votos”. Crime que no Maranhão é quase marca registrada dos Sarney. Uma ironia.

Pois saltam aos olhos algumas conclusões da auditoria sobre o 1° turno no Maranhão. Há indícios gravíssimos de fraude que deveriam ser apurados antes do 2° turno, dia 31 que vem. Provas existem, estão lá. Mas a Justiça Eleitoral maranhense vai decidir ainda se apura, ou não, se ela é culpada – já que é a guardiã do processo eleitoral.

Como diz aquela máxima do Direito, “quem guarda o guardião?” Essa decisão, importantíssima para os cidadãos do Maranhão, sai agora ou fica para as calendas gregas?

Com fundamento no que autoriza a Resolução do TSE número 23.218/10, na primeira semana após os resultados do 1° turno, Amilcar Brunazo e Maria Aparecida Cortiz pediram ao TRE-MA uma série de documentos, impressos e digitais, para auditar o sistema: as Tabelas Básicas de Dados Alimentadores do Sistema; o Relatório de Pendências e Decisões; a Ata oficial da Cerimônia de Geração de Mídias; os Arquivos de Resultados por Seção Eleitoral; os Espelhos dos Boletins de Urna (BU); os Arquivos de LOG das urnas eletrônicas usadas no Maranhão, do Gerador de Mídia e da Totalização; e os Arquivos dos Registros Digitais dos Votos (RDV).

Além disso, pegaram no portal do TSE, na Internet, os Boletins de Urna publicados na Internet (BUweb), as Tabelas de Correspondências Esperadas e Efetivadas e, também, o programa visualizador de LOG das urnas, o LogView. Um senhor calhamaço que foi analisado em curtíssimo espaço de tempo porque a Justiça Eleitoral só dá 72 horas, após a proclamação do resultado oficial, para contestar o resultado.

Aliás, esse é um dos absurdos na eleição brasileira: no tempo do voto de papel, a apuração levava semanas, até meses, para acabar. Agora termina em poucas horas. Mas o prazo para contestar o resultado continua sendo o mesmo dos tempos da contagem do voto de papel: 72 horas depois de proclamado o vencedor. Algo absolutamente conveniente à Justiça Eleitoral em prejuízo da cidadania – já que a pura e simples recontagem de votos é impossível. Não há votos para recontar, há dados a serem analisados – e assim mesmo se a Justiça Eleitoral os fornecer, o que é sempre uma incógnita.

Com base nos logs (arquivos eletrônicos produzidos pela máquina) produzidos pelas 15 mil urnas eletrônicas usadas no Maranhão, Amilcar Brunazo descobriu, por exemplo, que 19 mil dos votos computados no resultado oficial só entraram nas máquinas após às 17h30m quando, oficialmente as portas das seções eleitorais já estavam fechadas desde às 17 horas. Na análise dos dados Brunazo usou como parâmetro as seguintes informações: urnas que receberam no mínimo cinco votos após às 17h30m e votos introduzidos na máquina com intervalo de tempo inferior a um minuto. Coisa de profissional, não de eleitor comum.

Esses 19 mil votos, suficientes para mudar o resultado oficial, provam que presidentes de seção e mesários, por falta de fiscalização, votam pelo eleitor antes da emissão do BU e a entrega dos disquetes com resultados, para a totalização. Fraude simples, que não tem nada a ver com alta tecnologia e só acontece por falta de fiscalização. Pessoas acham que urnas eletrônicas são 100% seguras, quando na verdade elas são 100% inseguras.

Por isso é fundamental neste 2° turno que haja fiscais em cada uma das 400 mil e poucas seções eleitorais que funcionarão no país. Se não tiver gente de olho, atenta, mesário pode votar pelo eleitor. Porque ele tem o número do título do eleitor, no caderno de assinaturas, exatamente a informação que habilita a máquina para receber o voto. Se ninguém estiver de olho e ele for desonesto, vota com certeza pelo eleitor – ainda mais se a abstenção for alta.

Também é fundamental que no final do dia o fiscal de partido recolha o boletim de urna (BU) em papel, com a assinatura dos mesários, na seção eleitoral. Esse documento é garantia de que a totalização será feita corretamente, somando-se votos de urnas oficiais. Porque no caminho até a Zona Eleitoral, onde o disquete é introduzido no sistema totalizador, o disquete pode ser trocado por outro, produzido por urna clonada.

De posse do BU impresso, o fiscal pode conferir o resultado, seção por seção, zona por zona eleitoral, a partir da disponibilização da informação oficial da apuração na página do TSE na Internet. Uma conquista do PDT junto ao TSE, ao longo do tempo.

Brunazo e Cida constataram que nas urnas biométricas do Maranhão, usadas nos municípios de Paço do Lumiar e Raposa, ocorreram liberações de máquina pelo mesário – absolutamente anormais. Explico melhor: a urna biométrica, aquela em que o eleitor vota usando sua digital, além dos documentos normais de identificação, em caso de falso negativo (o eleitor ser ele mesmo, mas a máquina não reconhecer sua digital) – o mesário libera a máquina por senha.

Ou seja, cada presidente de mesa com urna biométrica possui senha para fazer a máquina funcionar caso ela não reconheça a digital do eleitor cadastrado. Pois dos 51.652 votos colhidos em urnas biométricas no Maranhão, 2.991 votos (5,8% do total) foram coletados de pessoas que não tiveram a sua impressão digital reconhecida, ou seja, via senha. Média seis vezes superior a inicialmente estimada pelo TSE.

No mundo real, isto mostra que mesários de urnas biométricas também “emprenham” as máquinas, votando no lugar dos eleitores. Em uma delas, em Paço de Lumiar, 1/3 dos eleitores votaram por senha – um número totalmente absurdo. Com um detalhe: a urna biométrica “entrega” a fraude dos mesários porque mostra, no BU impresso, quantas vezes foi acionada por senha. O que não acontece na urna comum. Ela também registra a digital do “falso-negativo” – bastando uma simples investigação pela Justiça Eleitoral para pegar os fraudadores. Mas será que eles serão pegos?

O mais grave constatado na auditoria foi a descoberta de que foram geradas mais de 200 Flash de Carga de urnas no Maranhão, além das necessárias. Uma única Flash de Carga serve para preparar urnas de até 100 seções eleitorais diferentes. Nas Flash de Carga são gravados dados sigilosos como as chaves de segurança das máquinas, além dos dados pessoais de eleitores e, naturalmente, as cópias de todos os softwares usados.

Elas são as únicas mídias externas das urnas com capacidade operacionais de inicializá-las sob seu total controle e nelas inserir qualquer software. Por isso o manuseio das Flash é cercado de cuidados regulamentados pela Resolução TSE n° 23.212/2010. Há registro em ata detalhado e redundante de cada Flash de Carga gerada, além de arquivo de LOG dedicado, sendo ainda obrigatório o acondicionamento delas em envelopes especiais de segurança, lacrados; sujeitas ainda a procedimentos normatizados para encaminhamento e guarda, após o uso delas. As Flash de Carga são o busilis do processo eletrônico de votação.

Pois analisando as informações sobre a geração e uso das Flash de Carga do Maranhão, como a Ata da Cerimônia de Mídia; o Arquivo de LOG da Geração de Mídia; o arquivo de LOG dos computadores usados nesta tarefa e a análise das Tabelas de Correspondências – fornecidas pelo próprio TSE-MA – Brunazo constatou que foram geradas 694 Flash com destino determinado, o que é absolutamente normal e serve para cobrir todas as 14.243 seções eleitorais do Estado do Maranhão; mas,depois, foram geradas outras 237 sem destino previsto. O que não faz sentido. Já os arquivos de LOG das 30 máquinas usadas na Geração de Mídias registraram a geração de 969 Flash de Carga, sendo oito delas com numeração duplicada – algo inaceitável levando-se em consideração a segurança do sistema. Ou seja, informações díspares e desencontradas. Não deveria ser assim.

Segundo o relatório, os fatos são graves porque gerar Flash de Carga diferentes para seções eleitorais diferentes, mas com o mesmo número serial, quebra a segurança contra a duplicidade de cargas. Abrindo oportunidade para fraudes “ao sabor da criatividade de quem estiver interessado”, inclusive a clonagem de urnas para gerarem resultados falsos,mas perfeitamente aceitáveis pelo sistema totalizador. Uma festa!

Brunazo acha necessário fazer uma auditoria “muito mais profunda e completa” na eleição do Maranhão, coisa que ele não teve tempo para fazer. Os fatos ocorreram, ficaram registrados nos arquivos digitais, os documentos estão lá, mas é preciso apurar mais. Ele concluiu também que diante da multiplicação irregular das Flash de Carga, não há como garantir se os Boletins de Urna (BU) aceitos na totalização foram os gerados pelas urnas oficiais, ou não. É preciso o TRE-MA apurar o que realmente aconteceu, já que a guarda de todos os documentos é de sua responsabilidade.

Ou nada feito, já que o guardião é que guarda o guardião.

Infelizmente, com as inseguras máquinas de votar que usamos no Brasil, presidente e mesário votam. Além de fiscalização, é fundamental que depois da eleição sejam recolhidos nos TREs os dados do pleito para que, através deles, se confira o que aconteceu dentro das máquinas. No Maranhão, malandramente, esses dados já foram entregues fora do padrão oficial.

Também é fundamental a coleta, nas seções eleitorais de todo o país, dos boletins de urna em papel assinados pelos mesários. Eles evitam as fraudes provocadas pela troca de disquetes de resultados na hora de totalizar. Numa eleição onde os softwares dominam, tudo é possível. Por isso é fundamental a volta do voto impresso conferido pelo eleitor, que tanto desagrada ao TSE que, sempre que pode, o critica. O voto impresso é a maneira mais simples e objetiva de fazer valer a verdade eleitoral, restabelecendo o princípio da recontagem.

Por conta disto, tudo, prezado Paulo Henrique Amorim, nesta véspera de 2° turno onde “pesquisas” aparentemente começam a preparar a opinião pública para o resultado eleitoral que interessa a elite, mais do que nunca é preciso ficar com os olhos bem abertos. Esse filme eu já vi quando Brizola estava vivíssimo e disputando a presidência da República.

As bruxas existem. Ainda mais no dia delas.

Um abraço do amigo

Osvaldo Maneschy

Jornalista e presidente da Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini, seção Rio de Janeiro.


Conheça www.votoseguro.org

domingo, 17 de outubro de 2010

O exterminador do futuro

Em 1987, ano da Constituinte, encontrei com José Serra no plenário da Câmara dos Deputados aonde fui discutir com alguns parlamentares temas da Seguridade Social. Vi-o muito atarefado com um monte de papel na mão recolhendo assinaturas de deputados. Como o conhecia desde a campanha das diretas, sendo um admirador de suas posições econômicas, me aproximei e perguntei-lhe do que se tratava. É uma emenda para bloquear os recursos propostos por Sarney para a construção da Ferrovia Norte-Sul, esclareceu. Como?, perguntei surpreso; a Norte-Sul é uma obra importante para o Centro-Oeste e para o país, Serra! “Mas que não seja para desequilibrar as contas públicas”, justificou ele, indiferente ao fato de que a Norte-Sul era, de fato, a única grande obra de infra-estrutura tentada por Sarney.

No ano seguinte, o Brasil vivia uma das piores crises inflacionárias de sua história depois do fracasso do Plano Real. Num movimento desesperado para tentar recuperar a estabilidade econômica e relançar o desenvolvimento, tive autorização do presidente da Confederação Nacional da Indústria, Senador Albano Franco, de quem era assessor, para tentar articular um pacto social liderado por empresários e trabalhadores a fim de propor uma alternativa viável, porém não convencional, para a dívida externa, articulada a um programa de relançamento dos investimentos de infra-estrutura. Em síntese, como estávamos em moratória externa, tratava-se de pagar dívida, sim, mas em moeda interna, orientando os recursos forçosamente para investimentos novos na infra-estrutura.

O documento central do Pacto Social chegou a ser assinado por representantes dos trabalhadores e do patronato, a despeito de uma resistência feroz do então ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, empenhado em fazer um acordo convencional com os banqueiros, que se revelou preliminar de uma nova moratória. No curso dessas discussões, levamos o tema do pacto a alguns líderes no Congresso, com outras sugestões. Entre elas, a de reduzir o imposto de renda na base da pirâmide e ter como compensação o acréscimo de uma alíquota marginal para os ricos. No momento em que se discutia isso Serra apareceu na sala e fulminou a proposta, sob a alegação de que não se podia aumentar impostos, mesmo que isso fosse para aliviar os menos favorecidos.

Não me encontrei com Serra no Governo Fernando Henrique. Encontrei-me com Malan, outro dos principais auxiliares de FHC, que me afirmou peremptoriamente que um crescimento de 3,5% do PIB seria perfeitamente satisfatório para o Brasil porque, na década de 90, a taxa de crescimento populacional havia caído! A propósito, um amigo comum me afirmou que, em 1995, assustado com a crise mexicana, Serra advogou decisivamente por uma freada do crescimento brasileiro, que vinha se recuperando com o Plano Real, sob o argumento do risco inflacionário. Como conseqüência, a mediocridade de crescimento iria imperar ao longo de todo o Governo FHC, em especial em função de uma política cambial irresponsável, sem que Serra movesse uma única palha contra.

Portanto, caveant, brasileiros: a República está em risco. Uma distração apenas e elegeremos um contador fiscalista como Presidente, obcecado pela idéia de cortar gastos públicos a qualquer custo, capaz de enterrar a curto prazo com as grandes potencialidades de crescimento que temos, sobretudo depois do segundo mandato do Governo Lula: o mandato efetivamente coordenado por Dilma na Casa Civil. O que está em jogo não é a cadeira presidencial. É o futuro do Brasil. Fala-se em educação, fala-se em saúde, fala-se em aumento de salário mínimo… mas de onde virá o dinheiro para tudo isso, senão do crescimento da economia? Foi o crescimento que permitiu a Lula fazer os programas sociais que fez e reduzir drasticamente o desemprego. Sem ele, perderemos mais uma vez o trem da história.

Sim, porque estamos quase em pleno emprego. Para atingi-lo, será necessário ampliar, e não reduzir gastos públicos. E isso é perfeitamente possível sem gerar inflação. Temos uma dívida pública de pouco mais de 40% do PIB, uma das mais baixas do mundo. Há folga fiscal para crescer. E as pressões inflacionárias, aqui como em todo o mundo, estão longe de representar qualquer risco. Caveat, eleitor! Depois de anos de paralisação quase total do investimento público, sobretudo no período Fernando Henrique/Serra, temos grandes obras em andamento, de aeroportos a hidrelétricas, gerando dezenas de milhares de empregos diretos e indiretos. E o risco que se corre não é de um deputado isolado, mesmo que influente, correndo pelo plenário da Câmara para bloquear um investimento público essencial. Seria de ter no Planalto um presidente que simplesmente não proporá ao Congresso os investimentos necessários. Nessa perspectiva, não seria eleito um presidente da República. Seria eleito o exterminador do futuro. O nosso!

*Jornalista, economista, doutor em Engenharia de Produção, professor de Economia Internacional, introdutor do jornalismo econômico investigativo no Brasil ainda no tempo da ditadura militar, autor de mais de 20 livros sobre economia política – entre os quais “A Chave do Tesouro” e “Os Mandarins da República”, sobre os escândalos financeiros do período autoritário -, e o último dos quais sendo “A Crise da Globalização”, sobre a atual crise mundial.

domingo, 10 de outubro de 2010

‘Desinformação’ não serve à democracia, diz Marilena Chauí


Em entrevista exclusiva à Rede Brasil Atual, a professora de filosofia da USP aponta setores ruralistas e classe média urbana como focos de anti-Lula. Ela faz reiteradas críticas à ameaça à liberdade de expressão provocada pela concentração dos meios de comunicação

Por: João Peres, Rede Brasil Atual

Publicado em 10/10/2010, 13:22

Última atualização às 13:22
São Paulo - Marilena Chauí pensa que a velha mídia está nos seus estertores. A filósofa e professora da Universidade de São Paulo (USP) entende que o surgimento da internet, o crescimento das alternativas e as atuais eleições delineiam o fim de um modelo.

A professora, que deixou de escrever e de falar para a velha mídia por não concordar com a postura de vários desses veículos, entende que a imprensa tem papel fundamental para a ausência de debate de temas-chave nas atuais eleições, alimentando questões que favorecem à candidatura de José Serra (PSDB).

Ela considera que não é possível falar de democracia quando se tem o poder da comunicação concentrado em poucas famílias, sem que a sociedade tenha a possibilidade de contestação. Após ato pró-Dilma Rousseff (PT), na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, no centro da capital paulista, a filósofa manifestou à Rede Brasil Atual que os ruralistas e a classe média urbana são os setores que alimentam o ódio a Lula.

Marilena Chauí aponta, sempre em meio a muitos gestos e a uma fala enfática, que o presidente jamais será perdoado. O motivo? Combateu a desigualdade no país.

Acompanhe a seguir os principais trechos da entrevista:

O único ponto aparente de consenso entre os institutos de pesquisa é quanto à aprovação do governo Lula. Que grupos estão entre os 4% da população que consideram ruim ou péssimo o desempenho do presidente?

É um mistério para mim. Tudo que tenho ouvido, sobretudo no rádio, em entrevistas sobre os mais diversos temas, vai tudo muito bem. Os setores que eu imaginaria que diriam que o governo ruim não são. Surpreendentemente.

Mas há dois setores que são “pega pra capar”. Um é evidentemente a agroindústria, mas é assim desde o primeiro governo Lula. Eles formam esse mundo ruralista que o DEM representa. Não são nem adversários, são inimigos. Inimigos de classe.

O segundo setor é a classe média urbana, que está apavorada com a diminuição da desigualdade social e que apostou todas suas fichas na ideia de ascensão social e de recusa de qualquer possibilidade de cair na classe trabalhadora. Ao ver o contrário, que a classe trabalhadora ascende socialmente e que há uma distribuição efetiva de renda, se apavorou porque perdeu seu próprio diferencial. E seu medo, que era de cair na classe trabalhadora, mudou. Foram invadidos pela classe trabalhadora.

Os trabalhadores têm reconquistado direitos e, com isso, setores do empresariado reclamam que há risco de perda de competitividade pelo mercado brasileiro.

Isso é uma conversa para a campanha eleitoral. É coisa da Folha, do Estadão, do Globo, da Veja, não é para levar a sério. E se você for lá e pedir para provar (que perderia competitividade), vão dizer que não falaram, que foi fruto das circunstâncias. Eles sabem que é uma piada isso que estão dizendo, não tem qualquer consistência.

A senhora passou por uma situação parecida à da psicanalista Maria Rita Kehl, agora dispensada pelo Estadão por ter elogiado o governo Lula…

Não foi parecida porque não fui demitida. Eu disse a eles que me recusava a escrever lá. Tanto no Estado quanto na Folha. Tomei a iniciativa de dizer a eles que não teriam minha colaboração.

Quando li o artigo da Maria Rita Kehl, pensei mesmo que poderia dar algum problema. Como é que o Estadão deixou o artigo sair? Era de se esperar que houvesse uma censura prévia.

Agora, se você tomar o que aconteceu nos últimos oito ou nove anos, vai ver que houve uma peneirada e uma parte das pessoas de esquerda simplesmente desistiu de qualquer relação com a mídia. Outras tiveram relação esporádica em momentos muito pontuais em que era preciso se expressar publicamente.

Houve, em um primeiro momento, um deslocamento das pessoas de esquerda para o Estadão, mas um deslocamento que não tinha como durar porque o jornal não tinha como abrigar esse tipo de pensamento.

Desapareceu para valer qualquer pretensão da mídia até mesmo de se oferecer sob uma perspectiva liberal. E sob uma perspectiva democrática. É formidável que no momento em que dizem que nós, do PT, ameaçamos a liberdade de imprensa, eles demitam a Maria Rita.

O que acho, com o segundo turno das eleições de Lula e as eleições da Dilma, é que há um estilo de mídia que está nos seus estertores. O fato de que haja internet e mídia alternativa que se espalha pelo Brasil inteiro muda completamente o padrão.

Passa-se de jornais que tinham função de noticiar para jornais que têm a função de opinar, o que é um contrassenso. A busca pela notícia faz com que não se vá mais em direção ao jornal, vá se buscar em outros lugares.

Em períodos eleitorais, tem sido recorrente a associação entre mídia e partidos políticos. Qual a implicação disso na tentativa de consolidação da democracia?

Isso é o que atrapalha a democracia do ponto de vista da liberdade do pensamento e de expressão. O que caracteriza uma sociedade democrática é o direito de produzir informação e de receber informação, de modo que possa circular, ser transformada. O que se tem é a ausência da informação, a manipulação da opinião e a mentira.

Acabo de ver em um site a resposta do Marco Aurélio Garcia (um dos coordenadores de campanha de Dilma) à manchete da Folha. Como é que a Folha dá manchete falando que Dilma vai tirar a questão do aborto do programa de governo se essa questão não está no programa? É dito qualquer coisa.

Desapareceu o compromisso mínimo com a verdade, o compromisso mínimo com a informação. É uma coisa de partido, puramente ideológica, perversa, de produção da mentira. Isso me lembra muito um ensaio que Hannah Arendt escreveu na época da Guerra do Vietnã. Ela comentava as mentiras que a TV, o rádio e os jornais apresentavam. Apresentavam a vitória no Vietnã, até o instante em que a mentira encontrou um limite tal nos próprios fatos que a verdade teve que aparecer. Ela chamou isso de crise da República, que é quando tem a mentira no lugar da informação. Ou seja, a desinformação. Isso não serve para a democracia.

O governo Lula teve, internamente, a convivência de polos opostos. Talvez tenha sido o primeiro a ter, por exemplo, Ministério de Desenvolvimento Agrário voltado a agricultura familiar e dialogando com o MST e o Ministério da Agricultura, voltado para o agronegócio. O governo e o presidente se saíram bem na tarefa de fazer opostos conviverem?

Sim. E isso é um talento peculiar que o presidente Lula tem, de ser um negociador nato. Como uma boa parte do trabalho do governo foi feita pela Casa Civil, podemos dizer que Dilma Rousseff tem a capacidade de fazer esse trânsito e essa negociação.

Mas como explicar as reações provocadas?

Duas coisas são muito importantes com relação ao atual governo. A primeira é que o governo Lula jamais será perdoado por ter enfrentado a questão da desigualdade social. Lula enfrentou a partir da própria figura dele. O fato de você ter um presidente operário, que tem o curso primário (Lula tem o ensino médio completo), significou a ruína da ideologia burguesa. Todos os critérios da ideologia burguesa para ocupar este posto (Presidência da República), que é ser da elite financeira, ter formação universitária, falar línguas estrangeiras, ter desempenho de gourmet… Enfim, foi descomposta uma série de atrativos que compõem a figura que a burguesia compôs para ocupar a Presidência. Ponto por ponto.

A burguesia brasileira e a classe média protofascista nunca vão perdoar isso ter acontecido. Imagine como eles se sentem. Houve (Nelson) Mandela, Lula, (Barack) Obama, (Hugo) Chávez. É muita coisa para a cabeça deles. É insuportável. É a sensação de fim de mundo.

Tudo que fosse possível fazer para destruir esse governo foi feito. Por que não caiu? Não caiu porque foi capaz de operar a negociação entre os polos contrários. Isso é uma novidade no caso do Brasil porque, normalmente, opera-se por exclusão. O que o governo fez foi operar por entendimento. E a possibilidade de corrigir uma coisa pela outra.

Agora, há milhares de problemas que o próximo governo vai ter de enfrentar. Não podemos cobrar de nós mesmos que façamos em oito ou em 16 anos o que não foi feito em 500. Mas quando se olha o que já foi feito, leva-se um susto. A redução da desigualdade, a inclusão no campo dos direitos de milhões de pessoas, o Luz para Todos, a casa (Minha Casa, Minha Vida), o Bolsa-Família, a (geração de empregos com) carteira assinada… É uma coisa nunca feita no Brasil.

A sra. faz uma avaliação muito positiva do governo. Por que essas medidas não ocorreram antes?

Alguém tinha de vir das classes trabalhadoras para dizer o que precisa fazer no Brasil. Os governos anteriores sequer levavam em conta que isso existia. O máximo que existia era o incômodo de ver essa gente pela rua, embaixo da ponte, fazendo greve, no ponto de ônibus, caindo pelas tabelas na condução pública. Era uma coisa assim que incomodava – (diziam:) “é meio feio, né? É antiestético”. O máximo de reação que a presença de classes populares causava era por serem antiestéticos. É a primeira vez que essa classe foi levada a sério.

Eles vão estrebuchar, vão gritar, vão xingar. Vão pintar a saracura, como diria minha mãe. Mas é isso aí. Deixa pintar a saracura que nós ficamos em pé.

sábado, 9 de outubro de 2010

Ausência de pluralismo: a falta de um jornal popular


A demissão da psicanalista Maria Rita Kell do corpo de colaboradores do Jornal “O Estado de São Paulo” reacende a incontornável discussão sobre a ausência de pluralismo na imprensa brasileira de grande circulação, em clara ofensa ao disposto no capítulo da Comunicação Social da Constituição Federal. Kell afirma ter sido demitida por “delito de opinião” após ter escrito artigo em que denuncia o esforço de desqualificação dos votos das camadas mais pobres da população.

Até mesmo argumentos utilizados na eleição passada pelo conhecido sociólogo Hélio Jaguaribe indicando que os votos que elegeram Lula possuíam um significado inferior em relação aos votos do candidato derrotado, estes sim, e só estes, como que por encanto, dotados de uma dimensão de nação, constavam o artigo que causou a demissão. Por desdobramento, o presidente Lula que promoveu recuperação significativa do salário mínimo, expandiu a classe média, reduziu robustamente os milhões de famintos, recupera a Petrobrás e a indústria naval, sob reconhecimento internacional expressivo, não teria sido eleito - segundo esta teoria esdrúxula - por votos com plena legitimidade.

Democracia X “democracia”

Mais surpreendente do que ver quem se encontra entre os insinuadores de tal interpretação que, por paralelo, remonta aos critérios da eleição a “bico de pena”, é a a assustadora complementaridade e identidade que estes conceitos possuem com a nova “teoria da democracia” exalada pela Casa Branca, segundo a qual, não basta que um governo seja eleito pelo voto democrático para conferir-lhe legitimidade. Para o novo critério de democracia que vem do norte, depende de como estes governos eleitos governem ou qual concepção de democracia apliquem para serem, em definitivo, considerados ou não democráticos.

Os exemplos estão por aí. Se um governo decide assumir plena soberania sobre o seu território, como o governo do Equador, que recuperou o controle sobre a Base Militar de Manta, antes administrada por contingentes norte-americanos, este comportamento não permite que lhe seja conferido o rótulo de democrático. Ou quando um governo eleito democraticamente pelo voto direto - o que não ocorre nos EUA - decide nacionalizar suas fontes de recursos naturais, como o faz o governo da Bolívia, isso também configuraria comportamento não democrático, coincidentemente, por contrariar os interesses vitais de empresas norte-americanas em várias partes do mundo.

O modelo de representação política dos EUA, mesmo com históricos altos graus de abstenção, de cadastros eleitorais em que se fazem assepsia dos eleitores negros, pobres, asiáticos e ex-presidiários, da bilionária dependência de esquemas financeiros para que alguém seja candidato e do impenetrável controle de uma mídia dominada por anunciantes vinculados à indústria bélica, nada disso pode ser questionado do ponto de vista democrático. Nem mesmo o histórico de vinculações da Casa Branca na supressão dos regimes democráticos em várias partes do mundo ao longo de décadas. Lá sim, existiria o modelo de democracia.

O voto de pobre vale menos?

A psicanalista Maria Rita Kell ousou revelar murmúrios indignados que podem estar povoando os ambientes das oligarquias midiáticas diante da impossibilidade de impedir que herdeiros ex-escravos possam exercer seu direito a voto. Sobretudo depois de estarem gradativamente recuperando o seu direito de trabalhar com carteira assinada, de serem reconhecidos pelo estado por meio de um programa social que lhes retira e aos seus filhos do corredor da pena de morte pela fome. O Brasil acaba de ser reconhecido pela FAO com um dos países que mais contribuem na atualidade para a redução da fome. Mas, do lado de cá, sociólogos, um tanto envergonhados é bem verdade, querem insinuar que os votos destes que escapam da pena de morte da fome não teriam legitimidade. E quem revela este pensamento merece a pura e simples sentença da demissão. Decidida no mesmo ambiente em que floresceu e germinou com desenvoltura a discricionária e cruel idéia de um ex-diretor do jornal mencionado, que sentiu-se no direito de matar uma jovem jornalista porque, afinal, ela teria cometido a gravíssima falta de pretender.....terminar o namoro.

Monteiro Lobato desprezado

Quando o senador Suplicy sobe à tribuna e solicita à direção do centenário jornal que reverta a demissão de Kell - que para nossa sorte não corre risco de vida e poderá nos iluminar com novas análises corajosas se encontrar espaços de publicação - embora bem intencionado, pode ser que não conheça episódio marcante da história deste diário. Décadas atrás, o escritor Monteiro Lobato, aflito com a incultura e particularmente com contingente de iletrados, solicita aos donos deste diário que o veículo fosse utilizado de modo militante e compromissado na luta para vencer o vergonhoso quadro de milhões e milhões de analfabetos no país. Após muito pensar, um dos proprietários responde ao criador do Sítio do Pica-pau Amarelo, provavelmente com o mesmo tom com que hoje condenam o voto dos pobres a uma espécie de sub-voto: “Ô Lobato, mas se todo mundo aprender a ler...quem é que vai pegar no cabo da enxada”. A proposta de Monteiro Lobato foi recusada. O pluralismo da psicanalista Kell, condenado. Veremos o que ocorrerá com relação à solicitação do senador.....

Apesar da evidente ausência de pluralismo na mídia brasileira, de sua crônica incapacidade para cumprir minimamente a Constituição Federal, do indevassável controle de algumas poucas famílias sobre a indústria da informação no Brasil, ainda assim, há gente que se preocupa não com este controle já existente do mercado cartelizado sobre os veículos de comunicação, mas com uma mera proposta de regulamentação da Constituição, colocando-a em sintonia com a tendência mundial que registra regulação crescente da comunicação como único caminho para assegurar-lhe pluralismo, diversidade, bem como caráter educativo, civilizatório e informativo nos seus conteúdos.

Comunicação é estratégica

O problema , no entanto, é que anos e anos de alerta e argumentação junto aos segmentos progressistas para que considerem a comunicação como algo estratégico, parece surtir pouco efeito organizativo. Só eventualmente, em momentos decisivos da política, este debate retorna ao cenário central da conjuntura, mas , quase sempre, limitado à reclamação indignada que, embora justa, termina por não colocar na mesa das iniciativas centrais das políticas progressistas, a necessidade de se construir alternativas concretas.

Será que um partido como o PT, com capacidade de alcançar a presidência da república galvanizando a simpatia e a adesão de fatias expressivas da sociedade brasileira, mesmo ainda com uma curta existência na cena política, não teria condições de organizar, criar, fundar, um jornal de cunho popular, de grande circulação, com capacidade, aí sim, de promover o verdadeiro pluralismo informativo, já que a queixa, a bronca, a reclamação sobre a falta deste atributo cidadão junto aos oligarcas da mídia tem se mostrado reiteradamente frustrante?

Publicaram que o Brasil não tinha petróleo

Tantas vezes muitos de nós já escrevemos e reiteramos aqui mesmo e em outras tribunas sobre o que representou o Jornal Última Hora, criado sob estímulo de Vargas, ele mesmo alvo de intensa campanha de desmoralização e destruição de imagem, na época intitulada “mar de lama”. Com a imensa popularidade que possuía, seja por ter criado a Petrobrás, o salário mínimo, os direitos trabalhistas, a licença maternidade, a siderúrgica de Volta Redonda, a Rádio Nacional, a Rádio Mauá, o Instituto Nacional do Cinema Educativo, o BNDES, etc, Vargas percebia que se dependesse da imprensa da época, o Brasil nunca teria petróleo, o salário mínimo e os direitos trabalhistas não passavam de privilégios descabidos, que a única linha editorial verdadeira e aceitável era a deposição do presidente. Ou seja, será que magnatas da comunicação que chegaram ao ponto de bradar o Brasil não possuía petróleo, podem ser sensibilizados e corrigir-se? O argumento ainda é válido para hoje. Como disse Giordano Bruno quando as fogueiras da Inquisição estavam sendo acesas “Que ingenuidade a minha, pedir ao poder para reformar o poder”

Hora de recriar um jornal popular

Será que as forças progressistas não devem pretender construir seus próprios meios de comunicação? Assim como o PT já revisou grande parte dos preconceitos que tinha contra Vargas e também quanto à política de alianças, não terá também chegada a hora de revisar uma linha política segundo a qual jornais de partido ou de segmentos não se justificam mais na política moderna e que o recomendável é a interlocução por meio da própria mídia dos grandes capitalistas? A julgar pelo tom indignado e os exemplos que o presidente Lula apresenta contra a manipulação desinformativa sobre a sua gestão e sobre sua candidata, talvez tenha chegado o momento de se usar o imenso capital de popularidade para organização de um jornal popular, nacionalista, de circulação diária, massiva. E, além disso, amparado em uma Fundação para o Jornalismo Público, dotada de uma faculdade capaz de gerar uma nova linguagem jornalística, para abrir uma nova cultura de jornalismo condizente com os novos tempos vividos pelo país. Um tempo em que milhões e milhões saem dos grotões físicos e sociais, iniciam-se no exercício de certos direitos e no consumo de bens indispensáveis, mas não dispõem ainda do direito de ler um jornal que retrate a marcha das mudanças que o Brasil está experimentando e da própria mudança que suas vidas vem registrando, sob o ponto de vista civilizatório.

Sinais de mudança no jornalismo no mundo

Basta que olhemos com mais atenção o mundo. Registra-se tendência de regulação no campo das comunicações para assegurar a diversidade, a pluralidade, o humanismo e o padrão civilizatório desta indústria. E se olharmos mais em volta de nós, perceberíamos vários países com um grau de pluralismo jornalístico invejável diante do monolitismo estreito e hostil às mudanças que vivenciamos na sociedade brasileira. Na Argentina, há o jornal “Página 12”; no México , há o diário “La Jornada”; na Bolívia, ainda não completou um ano de vida o jornal “Cambio”, mas já é o recordista de vendagem, junto com o tradicional “La Razón”, que tem 70 anos de vida e, por fim, nasceu o “Correo del Orinoco”, do qual foi redator o brasileiro Abreu e Lima, que lutou junto a Bolívar na Independência frente ao imperialismo espanhol.

Toda vez que nos indignarmos com os fartos e incorrigíveis exemplos de jornalismo precário da imprensa brasileiro, será que não deveríamos também, para além da crítica, nos perguntar sinceramente por que não criamos o nosso próprio jornal popular? Não seria essa a crítica mais conseqüente a esta torrente de facciosismo que estamos a enfrentar? Na história do Jornal Última Hora está uma parte das respostas.

Beto Almeida, jornalista
Brasília, 8.10.2010

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Estadão demite Maria Rita Kehl por defender Governo Lula em artigo


O Conselho Editorial do Jornal Estado de SP demitiu a Psicanalista e escritora Maria Rita Kehl por escrever um artigo (reproduzido abaixo) em que defendeu os avanços no Governo Lula.
Este episódio demonstra de forma clara e inequívoca os limites da hipócrita "liberdade de expressão" propalada pela grande mídia empresarial brasileira.
O que temos na prática é apenas a "liberdade do dono" do jornal!


Dois pesos...
02 de outubro de 2010 | 0h 00

Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por "uma prima" do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da "esmolinha" é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de "acumulação primitiva de democracia".
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.

Transcrito do blog Aldeia Galesa: http://aldeia-gaulesa.blogspot.com/2010/10/estadao-demite-maria-rita-kehl-por-ela.html

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Dilma Rousseff mostra a força política de sua candidatura

O primeiro dia do segundo turno foi uma oportunidade para celebrar a vitória de aliados e de acertar a estratégia da campanha presidencial neste mês. Hoje, a candidata Dilma Roussef recebeu, em Brasília, todos os governadores da sua base aliada eleitos no primeiro turno, mais os senadores e deputados de vários partidos para uma reunião.
O encontro serviu para unir forças e traçar estratégias para a vitória no segundo turno, contra o candidato que representa do governo Fernando Henrique Cardoso e o período em que o Brasil não crescia, não distribuía renda e não gerava empregos.

Dilma parabenizou a todos pelas suas vitórias, agradeceu o apoio que recebeu nos estados e pediu ajuda para vencer a segunda parte do pleito.

“Vocês nos ajudarão a fazer o enfrentamento daqui para frente. Suportamos durantes seis meses o embate. E, agora, contamos com a ajuda de vocês para vencer e continuar o projeto do presidente Lula”, conclamou.

Todos lamentaram os ataques de baixo nível dos adversários, que tiraram as chances de vitória no primeiro turno, mas demonstraram que estão preparados para dar a vitória à Dilma. A maioria dos aliados também sugeriu à candidata que não responda a esses ataques e continue a apresentar suas propostas, porque a população sabe que sua vida melhorou no governo Lula.

Conversa com Marina

Também ficou decidido que a coligação fará uma aproximação com a candidata do PV, Marina Silva, mas que respeitará o tempo de decisão da senadora.

“Não temos porque não pedir o apoio da Marina. Acho que ela tem mais relações conosco do que com nosso adversário. Mas essa conversa tem que ser respeitosa e cada um tem seu tempo para amadurecer as decisões. Temos que aguardar o tempo dela”, defendeu Dilma.

A candidata também falou que a reunião era para mobilizar os aliados para a vitória. “Essa é uma reunião de mobilização. A gente preciso que nos estados os eleitos assumam a função de coordenadores da campanha”, explicou a candidata aos aliados.

domingo, 3 de outubro de 2010

3out – TVC-Rio na apuração das eleições 2010, hoje, 17 horas ao vivo

Assista a partir das 17 horas um programa especial sobre a apuração das eleições 2010. Ligue canal 6 da NET, TV Comunitária do Rio de Janeiro. Durante 2 horas estaremos divulgando os resultados da apuração dos votos. Acompanhando direto pelo saite do TSE o resultado das eleições em todo o País.

jornal nacional pensa que o Brasil é um aterro sanitário

Publicado em 03/10/2010 no Conversa Afiada (www.conversaafiada.com.br)










Na foto, a “pesquisa” do jornal nacional

Na véspera de uma eleição com 136 milhões de eleitores, o telejornal de maior audiência é uma sucessão de “resultados” de pesquisas eleitorais.
O programa foi quase todo dedicado a um conjunto de hipóteses realizadas por duas instituições com um histórico de manipulação e erro.
Ao longo mesmo dessa eleição, o Datafalha e o Globope foram flagrados num e noutro caso: manipular e errar.
O Datafalha sempre esteve – como hoje – na companhia do candidato da elite branca (e separatista) de São Paulo.
E o Globope é uma “subsidiária” da Globo e de seus interesses.
NENHUM PAÍS DO MUNDO LEVA PESQUISA ELEITORAL A SÉRIO. SÓ O BRASIL.
Nenhum !
Por que o Brasil leva a sério ?
Porque três famílias controlam o PiG (*) e duas das quatro maiores empresas de pesquisa.
Essas duas empresas de pesquisa desfrutam da audiência do PiG (*) – maior do que a audiência dos dois outros institutos, a Vox e a Sensus.
A pesquisa casada com o PiG (*) – especialmente a Globo e, especialmente o jornal nacional – é uma arma política.
Do PiG (*) – ou seja, da elite branca (e separatista, no caso de São Paulo).
O PiG (*) e seus institutos de pesquisa são, por definição, imunes a revisão.
Não há como refazer uma pesquisa.
Mas, é possível suspeitar dos “critério técnicos” do Datafalha, sobretudo, o que mais erra.
O Datafalha ouve mais eleitores do Serra.
O pesquisador do Datafalha submete o entrevistado a uma sessão de tortura.
O Datafalha tem tanta relação com o IBGE quanto com o Census Bureau americano.
E o Datafalha pesquisa por telefone.
Todas essas observações já foram feitas pelos blogs sujos, como este ordinário blogueiro e o Luis Nassif, por exemplo.
Este ordinário blogueiro, como se sabe, trabalhou na Rede Globo, trabalhou em cobertura de eleições e é testemunha de como o Globope “fecha” pesquisa em cima da eleição.
O Fernando Henrique se elegeu prefeito por São Paulo pelo Globope.
E por que foi possível chegar a esse ponto ?
Por causa da provisória supremacia da Globo e do PiG (*).
Eles, juntos, de propósito e por incompetência, conseguiram desidratar o debate político do Brasil.
O PiG (*) e especialmente a Globo não têm espaço para debater políticas públicas.
As tevês educativas e públicas foram devidamente desidratadas.
Os partidos políticos também desidrataram a política.
A política no Brasil se faz ao largo dos foros públicos, das arenas para confrontar ideias.
O PT saiu da rua.
O Governo Lula tirou o PT da rua.
E o PSDB tem medo da rua: quantos comícios fez o Serra nessa campanha ?
Resulta que as informações mais relevantes da campanha apareceram nos programas do João Santana no horário eleitoral da Dilma.
Desde o primeiro, ainda sem que a Dilma fosse candidata, quando o Santana pendurou o FHC no pescoço do Serra.
Tem culpa também essa excrescente legislação eleitoral.
Primeiro, revelou-se “imparcial”, como a Dra Sandra Cureau.
Segundo, inútil, porque teve que depositar a Ficha Limpa e os dois documentos no vácuo cinzento que fica entre as ilustres poltronas ministeriais do Supremo.
E terceiro, porque, com medo da parcialidade da Globo e do PiG (*), permitiu que os partidos engessassem a cobertura da campanha – como fizeram com o debate.
Clique aqui para ler “por que o debate da Globo não presta”.
Só uma Ley de Medios dá jeito nisso.
Só uma Ley de Medios leva o debate para a rua.
Sem Ley de Medios, os eleitores da Dilma de hoje votarão no Berlusconi em 2014.
É o que o Wanderley Guilherme dos Santos também disse, em excelente artigo no Valor desta sexta-feira.
Vamos, então, esquecer que esta foi uma eleição entre uma candidata trabalhista e dois conservadores, unidos pelas tripas.
Vamos relevar as diferenças ideológicas, óbvias, entre trabalhistas e conservadores.
Quem diz que “esquerda” e “direita” acabaram é a direita.
Vamos ficar nas figuras públicas, nas personas em disputa.
Nada mais “televisivo”, nada mais “notícia” do que “personagem”.
De um lado, José Serra, uma “spent force”, diriam os professores dele em Cornell.
(Como é que um exilado político, que saiu do Chile de Allende, foi parar nos Estados Unidos, assim, numa “nice” ?)
Gasto, “força desgastada”, superado, ideologicamente envelhecido.
Ancorou-se em 2002, quando teve 39% dos votos (contra 61% do Lula) e achou que venceu a eleição.
Tanto que o PiG (*) sempre o tratou como “presidente eleito”, depois de 2002.
Faltava tomar posse.
O Serra não percebeu que o Brasil mudou com Lula.
Que o Lula engordou a Classe C.
Para os tucanos de São Paulo, costuma dizer o Paulo Henrique Amorim, a “Classe C” fica entre a Business e a Primeira.
A ascensão social é mais do que uma questão econômica, que o IBGE possa medir.
Isso tem a ver com política, com visão de mundo.
É “cidadania”, como o Lula repete.
Ou, como diria o Albert Hirschman, que o Fernando Henrique leu e finge que não leu: o consumidor vira cidadão.
(Por falar nisso: cadê o Fernando Henrique ? Não vai segurar a alça do caixão ?)
Essa poderia ser uma discussão interessante, em torno de candidatos e personagens da Classe C.
Mas, o jornal nacional preferiu fazer uma tournée aero-rocambolesca para mostrar o que o Brasil tem de pior.
Um esgoto sanitário em cada esquina.
Bom mesmo, que este ordinário blogueiro tenha visto, o jornal nacional só achou em … onde ?, amigo navegante ?
Em São Paulo !
Em Lençóis Paulista …
O PiG (*) e a Globo poderiam falar do “verdismo” da Marina.
Como fez o meu amigo Mauro Santayana: a candidata de duas caras.
Pela frente, a pobrinha que anda num jato de US$ 50 milhões.
Por trás, os americanos e o James Cameron.
Como foi a jestão da Marina no Ministério ?
Um desastre ecológico, uma British Petroleum.
Além de traíra, ela é uma péssima administradora.
Como aquele outro traíra, o Cristovão Buarque, que foi mandado embora a tempo de salvar o programa educacional do Lula.
Por que a urubóloga Miriam Leitão acusava a Marina Ministra de desmatar o Brasil e, depois, viu nela uma cruza de Joana D’Arc com Angelina Jolie ?
Clique aqui para ler “Lucia Hippolito vota na Marina. Por que a Globo trocou de candidato ?”.
(Este post chega a dizer – que absurdo ! – que as eleitoras da Marina usam Kelly bag com sandália haviana verde !
Quá, quá, quá !)
A Dilma será a primeira mulher presidente da Brasil.
A Dilma será o primeiro presidente que é da primeira geração de imigrantes.
A Dilma será a primeira presidente que lutou na clandestinidade – e se orgulha disso ! – contra o regime militar.
E, muito importante, como ressalta o sábio Fernando Lyra – a Dilma se elege FORA da política partidária: ela nunca foi eleita para cargo nenhum.
Ela é uma renovação, nesse sentido também.
E o jornal nacional adora “pesquisa”.
O jornal nacional de sábado e a sucessão de DUAS “pesquisas” por estado, com “margens de erro” que engolem tudo (manipulação, despudor, imprecisão técnica etc etc ), são reflexo de uma eleição sem política.
O jornal nacional trata a eleição – como tentou fazer do Brasil, na tournée aero-rocambolesca – como se fosse um aterro sanitário.
Onde nada germina.
O jornal nacional vai ver o que germina hoje à noite.
Paulo Henrique Amorim

(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.