Publicado em 03/10/2010 no Conversa Afiada (www.conversaafiada.com.br)
Na foto, a “pesquisa” do jornal nacional
Na véspera de uma eleição com 136 milhões de eleitores, o telejornal de maior audiência é uma sucessão de “resultados” de pesquisas eleitorais.
O programa foi quase todo dedicado a um conjunto de hipóteses realizadas por duas instituições com um histórico de manipulação e erro.
Ao longo mesmo dessa eleição, o Datafalha e o Globope foram flagrados num e noutro caso: manipular e errar.
O Datafalha sempre esteve – como hoje – na companhia do candidato da elite branca (e separatista) de São Paulo.
E o Globope é uma “subsidiária” da Globo e de seus interesses.
NENHUM PAÍS DO MUNDO LEVA PESQUISA ELEITORAL A SÉRIO. SÓ O BRASIL.
Nenhum !
Por que o Brasil leva a sério ?
Porque três famílias controlam o PiG (*) e duas das quatro maiores empresas de pesquisa.
Essas duas empresas de pesquisa desfrutam da audiência do PiG (*) – maior do que a audiência dos dois outros institutos, a Vox e a Sensus.
A pesquisa casada com o PiG (*) – especialmente a Globo e, especialmente o jornal nacional – é uma arma política.
Do PiG (*) – ou seja, da elite branca (e separatista, no caso de São Paulo).
O PiG (*) e seus institutos de pesquisa são, por definição, imunes a revisão.
Não há como refazer uma pesquisa.
Mas, é possível suspeitar dos “critério técnicos” do Datafalha, sobretudo, o que mais erra.
O Datafalha ouve mais eleitores do Serra.
O pesquisador do Datafalha submete o entrevistado a uma sessão de tortura.
O Datafalha tem tanta relação com o IBGE quanto com o Census Bureau americano.
E o Datafalha pesquisa por telefone.
Todas essas observações já foram feitas pelos blogs sujos, como este ordinário blogueiro e o Luis Nassif, por exemplo.
Este ordinário blogueiro, como se sabe, trabalhou na Rede Globo, trabalhou em cobertura de eleições e é testemunha de como o Globope “fecha” pesquisa em cima da eleição.
O Fernando Henrique se elegeu prefeito por São Paulo pelo Globope.
E por que foi possível chegar a esse ponto ?
Por causa da provisória supremacia da Globo e do PiG (*).
Eles, juntos, de propósito e por incompetência, conseguiram desidratar o debate político do Brasil.
O PiG (*) e especialmente a Globo não têm espaço para debater políticas públicas.
As tevês educativas e públicas foram devidamente desidratadas.
Os partidos políticos também desidrataram a política.
A política no Brasil se faz ao largo dos foros públicos, das arenas para confrontar ideias.
O PT saiu da rua.
O Governo Lula tirou o PT da rua.
E o PSDB tem medo da rua: quantos comícios fez o Serra nessa campanha ?
Resulta que as informações mais relevantes da campanha apareceram nos programas do João Santana no horário eleitoral da Dilma.
Desde o primeiro, ainda sem que a Dilma fosse candidata, quando o Santana pendurou o FHC no pescoço do Serra.
Tem culpa também essa excrescente legislação eleitoral.
Primeiro, revelou-se “imparcial”, como a Dra Sandra Cureau.
Segundo, inútil, porque teve que depositar a Ficha Limpa e os dois documentos no vácuo cinzento que fica entre as ilustres poltronas ministeriais do Supremo.
E terceiro, porque, com medo da parcialidade da Globo e do PiG (*), permitiu que os partidos engessassem a cobertura da campanha – como fizeram com o debate.
Clique aqui para ler “por que o debate da Globo não presta”.
Só uma Ley de Medios dá jeito nisso.
Só uma Ley de Medios leva o debate para a rua.
Sem Ley de Medios, os eleitores da Dilma de hoje votarão no Berlusconi em 2014.
É o que o Wanderley Guilherme dos Santos também disse, em excelente artigo no Valor desta sexta-feira.
Vamos, então, esquecer que esta foi uma eleição entre uma candidata trabalhista e dois conservadores, unidos pelas tripas.
Vamos relevar as diferenças ideológicas, óbvias, entre trabalhistas e conservadores.
Quem diz que “esquerda” e “direita” acabaram é a direita.
Vamos ficar nas figuras públicas, nas personas em disputa.
Nada mais “televisivo”, nada mais “notícia” do que “personagem”.
De um lado, José Serra, uma “spent force”, diriam os professores dele em Cornell.
(Como é que um exilado político, que saiu do Chile de Allende, foi parar nos Estados Unidos, assim, numa “nice” ?)
Gasto, “força desgastada”, superado, ideologicamente envelhecido.
Ancorou-se em 2002, quando teve 39% dos votos (contra 61% do Lula) e achou que venceu a eleição.
Tanto que o PiG (*) sempre o tratou como “presidente eleito”, depois de 2002.
Faltava tomar posse.
O Serra não percebeu que o Brasil mudou com Lula.
Que o Lula engordou a Classe C.
Para os tucanos de São Paulo, costuma dizer o Paulo Henrique Amorim, a “Classe C” fica entre a Business e a Primeira.
A ascensão social é mais do que uma questão econômica, que o IBGE possa medir.
Isso tem a ver com política, com visão de mundo.
É “cidadania”, como o Lula repete.
Ou, como diria o Albert Hirschman, que o Fernando Henrique leu e finge que não leu: o consumidor vira cidadão.
(Por falar nisso: cadê o Fernando Henrique ? Não vai segurar a alça do caixão ?)
Essa poderia ser uma discussão interessante, em torno de candidatos e personagens da Classe C.
Mas, o jornal nacional preferiu fazer uma tournée aero-rocambolesca para mostrar o que o Brasil tem de pior.
Um esgoto sanitário em cada esquina.
Bom mesmo, que este ordinário blogueiro tenha visto, o jornal nacional só achou em … onde ?, amigo navegante ?
Em São Paulo !
Em Lençóis Paulista …
O PiG (*) e a Globo poderiam falar do “verdismo” da Marina.
Como fez o meu amigo Mauro Santayana: a candidata de duas caras.
Pela frente, a pobrinha que anda num jato de US$ 50 milhões.
Por trás, os americanos e o James Cameron.
Como foi a jestão da Marina no Ministério ?
Um desastre ecológico, uma British Petroleum.
Além de traíra, ela é uma péssima administradora.
Como aquele outro traíra, o Cristovão Buarque, que foi mandado embora a tempo de salvar o programa educacional do Lula.
Por que a urubóloga Miriam Leitão acusava a Marina Ministra de desmatar o Brasil e, depois, viu nela uma cruza de Joana D’Arc com Angelina Jolie ?
Clique aqui para ler “Lucia Hippolito vota na Marina. Por que a Globo trocou de candidato ?”.
(Este post chega a dizer – que absurdo ! – que as eleitoras da Marina usam Kelly bag com sandália haviana verde !
Quá, quá, quá !)
A Dilma será a primeira mulher presidente da Brasil.
A Dilma será o primeiro presidente que é da primeira geração de imigrantes.
A Dilma será a primeira presidente que lutou na clandestinidade – e se orgulha disso ! – contra o regime militar.
E, muito importante, como ressalta o sábio Fernando Lyra – a Dilma se elege FORA da política partidária: ela nunca foi eleita para cargo nenhum.
Ela é uma renovação, nesse sentido também.
E o jornal nacional adora “pesquisa”.
O jornal nacional de sábado e a sucessão de DUAS “pesquisas” por estado, com “margens de erro” que engolem tudo (manipulação, despudor, imprecisão técnica etc etc ), são reflexo de uma eleição sem política.
O jornal nacional trata a eleição – como tentou fazer do Brasil, na tournée aero-rocambolesca – como se fosse um aterro sanitário.
Onde nada germina.
O jornal nacional vai ver o que germina hoje à noite.
Paulo Henrique Amorim
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
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